segunda-feira, 27 de julho de 2009

De novo os tribunais e a pedofilia

Não há muito mais a dizer. Remeto para a leitura da notícia do público. Ler aqui.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A validade do arrependimento

Ontem o Diário de Notícias publicou uma notícia da setença num caso de pedofilia. Ler aqui.

Não gosto de criticar o funcionamento da justiça, porque considero que os efeitos são, muitas vezes, mais perniciosos do que benéficos, mas esta notícia continha declarações que me deixaram perplexo. Talvez por não ter muito contacto com o sistema de justiça.

Um pedófilo foi condenado pela prática de 53 crimes de violação de menores e a juíza presidente Maria José Matos declarou o seguinte: "a pena podia ir até aos 25 anos de prisão, mas foi atenuada pelo arrependimento do arguido". O total da pena foi de 12 anos de pena de prisão efectiva - 12 anos em 25 possíveis!

Não sou capaz de compreender como é que o arrependimento pode retirar mais de metade do tempo de uma pena.

No plano da moral e das relações sociais isso é concebível, cada indivíduo tem a liberdade de perdoar pelas razão que considera de acordo com a sua estrutura de valores. Mas será isso lícito quando se trata da justiça aplicada pelo Estado? Como é que se avalia a validade das declarações de arrependimento? Não sei. Nem quero acreditar que os juízes se sinta capazes de o fazer.

Se este caso é paradigmático então a produção de declarações desta índole tornou-se concerteza num sistema instrumental de redução de penas que nenhum advogado deixará de usar.

Para quem conhece as taxas elevadíssimas de reincindência nos caso de pedofilia este exemplo torna-se ainda mais ultrajante e significativo.

Não compreendo...

terça-feira, 14 de julho de 2009

Que seria, pois, de nós, sem a ajuda do que não existe?





Que seria, pois, de nós, sem a ajuda do que não existe?
Paul Valéry



Recordo esta frase como citação nas primeiras páginas de um livro de Mário Vargas Llosa. E esta frase que se me apresenta na sequência dos textos.

O interesse pelo projecto humano é algo que mobiliza quem nele participa, mais os que nele não participam, e entenda-se por participação desde a acção, o sonho, à recusa deliberada ou à destruição.

Estar no mundo é ser o mundo.

Uma bola em qualquer sitio que não sabemos onde ou se real, mas que povoada por exuberantes e incontáveis formas de vida em mutação. Fervilhantes sistemas religiosos, políticos, artísticos. A Humanidade e a sua superioridade triunfante perante a bestialidade. A sobrevivência que fez transparecer a necessidade de contemplar a imensa sorte de escapar ao esquecimento e segurar nas pedras, no papel e no pensamento recordações, pensamentos e vontades.


Natura versus cultura.

Planos, projectos, inventos, engenhos, teorias, sistemas, receitas, soluções. Meios quase infalíveis, sujeitos à repetição para fixar o efémero em instantes imediatos que nos façam reconhecer quase no imediato, quem somos e muito provavelmente, para onde vamos. Afinal o mundo cabe na nossa mão.

Eu no mundo, acima do mundo, mais que o mundo.


Retornos à ideia de comunidade. Espaço privilegiado de encontro à escala, do nosso cérebro, emoção e memória e talvez mesmo vontade. Eu, o outro, aqueles, os estranhos, os que virão e que cabemos aqui. Por enquanto …

Recupero o exercício do improvável, em detrimento de barreiras e convenções, e a favor da criatividade, a descoberta, a iniciativa e o empenho humano em beneficio do usufruto da aventura humana.

Eu contigo no mundo que é nosso curioso pelos que virão.

Desenvolvimento social português

Rui Zink no seu blog escreve sobre a forma como os portugueses se avaliam a si próprios.

Diz o seguinte: "Sempre achei que nós Portugueses éramos os únicos Verdadeiros Europeus, porque éramos os únicos que, genuinamente, nos queríamos diluir na Europa. E diluir no sentido de anular mesmo. E continuamos a ser o único povo que, genuinamente, se odeia a si próprio enquanto colectivo nacional, mas se adora enquanto pequena colectividade. No fundo somos uma feliz sociedade recreativa, um país com pés de bairro, e a verdade é que nenhum de nós, nem mesmo o mais caturra, resiste a um alegre arraial. Isto podia ser terrível, mas é talvez a chave do nosso génio. Somos o povo-camaleão , o povo-macaco de imitação, o povo-Zelig , o país que quer ser, do primeiro-ministro ao arrumador, “como se é lá fora”. E isso não tem mal nenhum, antes pelo contrário, é o nosso encanto. E a chave para a nossa identidade. “Gostava de ser outro”, disse Pessoa. Ora aqui está uma boa definição para Portugal, acho: “O país que gostava de ser outro”." (ver texto integral aqui)

No dia 4 de Julho escrevi aqui neste blog acerca daquilo que parece ser a emergência das sonoridades populares para o público mais urbano. Considero isso um prenúncio de qualquer coisa nova que está para vir.

A questão é esta: será possível desenvolver economicamente um país sem simultaneamente o desenvolver socialmente? Não creio.

É preciso olhar para dentro e tentar conciliar o que vem de fora com as nossas próprias referências. Por tal, necessitamos de encontrar modelos internos para todas as áreas e domínios sociais.

Só assim deixaremos de desejar diluir e reduzir tudo a uma massa disforme. Inclusive a nós próprios. Só assim podemos conduzir o país e o nosso futuro. Criar um país com o qual nos revemos e acreditamos. Um país à nossa imagem.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Comentários ao texto de JPP sobre a carreira nos partidos

Pacheco Pereira escreveu, aqui, sobre o funcionamento dos partidos e sobre a forma como estes produzem carreiras fáceis e pessoas sem escrúpulos. O texto é muito lúcido.

Mas para quem conhece essa realidade o texto nem sequer trás nada de novo. Eu conheço-a e pela minha experiência tudo aquilo que lá é dito é verdadeiro. Os partidos são plataformas que produzuzem acima de tudo mediocridade.

Mas será que a responsabilidade destes comportamentos é apenas dos partidos? Toda esta informação não é notória, pelo menos nos seus resultados? Enquanto sociedade o que é que temos feito para contrariar isso? Criticar no café? E isso chega ou é apenas uma forma de nos distanciarmos dessa realidade? Portanto, uma forma de nos colocarmos no lado dos "bons".

A mudança não se faz com críticas, faz-se de acção. Se discordamos dos partidos criamos alternativas ou entramos nos que existem para os transformar. Isso é o que viver numa democracia exige.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O padrinho

Artigo retirado do jornal I (www.ionline.pt) por Paulo Oom (Pediatra)

Publicado em 09 de Julho de 2009.

"Alguns pais acreditam que, para disciplinar uma criança, ela tem necessariamente de ser contrariada. Não por vezes, mas a maioria das vezes. A ideia é que se a mensagem que querem transmitir não magoa (física ou psicologicamente), a criança nunca a vai entender. Por isso estabelecem regras, que impõem através de ameaças e da criação de um clima de medo. Estes pais acreditam que são eles que deve pensar sobre como resolver os problemas das crianças e fazem muitas vezes o papel de detectives, procurando indícios de mau comportamento, polícias, juízes ou árbitros da vida da criança.

Desta forma, tudo na vida delas é controlado pelos pais pois são eles que decidem e impõem, pela força, a sua vontade.

Neste ambiente educativo, as crianças aprendem que são os pais os responsáveis pela resolução dos seus problemas e que o medo é uma arma importante para ajudar a resolver as contrariedades da vida. Estas crianças não treinam a responsabilidade de tomar as suas próprias decisões, não desenvolvem o domínio sobre a sua vida e opiniões e, definitivamente, não aprendem qual o poder da comunicação na resolução dos problemas. São habitualmente crianças ressentidas, irritadas, com uma péssima relação com os pais e que procuram comportar-se bem apenas "porque tem de ser", e porque lhes é imposto.
Os pais que estabelecem limites rígidos sem liberdade de escolha, num estilo educativo essencialmente punitivo, não estão a educar correctamente os seus filhos."

terça-feira, 7 de julho de 2009

fé em deus e pé na tábua

Não deixo de me sentir espectador de mim mesmo, com dizia o poeta. Mas sobretudo espectador de tanta novidade, de projectos inovadores, sons surpreendentes. Há crise, onde? não existe liquidez é certo. Mas tanto alimento, este frenesim e esta azáfama parecem ser indicio (suficiente?) de uma época que ser quer diferente, porque se sonha ser diferente!

Acho que todos estão à procura de qualquer coisa, sente-se, isso anda no ar.

Eu, pelo meu lado só esbarro com esta gente. Facto que me leva a pensar que sob outra ordem, pelo exercício do improvável hehehhe voltamos à velha e sempre fértil ideia de comunidade.

Fui brother!! 







Os tribalistas já não querem ter razão
não querem ter certeza não querem ter juízo nem religião
Os tribalistas já não entram em questão
não entram em doutrina em fofoca ou discussão
chegou o tribalismo no pilar da construção

Pé em deus e pé na taba
Pé em deus e fé na taba
Um dia já fui chimpanzé
agora eu ando só com o pé
dois homens e uma mulher
Arnaldo Carlinhos e Zé

Os tribalistas saudosistas do futuro
abusam do colírio e dos óculos escuros
são turistas assim como você e o seu vizinho
dentro da placenta do planeta azulzinho

Pé em deus e fé na taba
Pé em deus, fé na taba
Um dia já fui chimpanzé
agora eu ando só com o pé
dois homens e uma mulher
Arnaldo Carlinhos e Zé
dois homens e uma mulher
Arnaldo Carlinhos e Zé
Um dia já fui chimpanzé
agora eu ando só com o pé

pé em deus e fé na taba
pé em deus e fé na taba

O tribalismo é um anti-movimento
Que vai se desentegrar no próximo momento
O tribalismo pode ser e deve ser o que você quiser
Não tem que fazer nada basta ser o que se é
Chegou o Tribalismo mão no teto e chão no pé

pé em deus e fé na taba
Pé em deus e fé na taba
Pé em deus e fé na taba
Pé em deus...

Are you part of this human specie?



Retirei este video de um novo projecto que me parece valer a pena acompanhar: IM Magazine.

Apresento-o pelas suas próprias palavras.

"A IM já nasceu. Uma revista on-line inovadora que vem trazer ao universo dos média um novo conceito: divulgar o melhor que se faz no mundo para um mundo melhor, em qualquer campo que interessa à humanidade. Da ciência à tecnologia, da educação ao ambiente, da arquitectura à política, da sociologia à economia, da psicologia à investigação, da solidariedade à responsabilidade social, vamos entrar no mundo dos visionários, pensadores, filantropos, voluntários, inventores, artistas, investidores, conhecer os projectos que fazem a diferença, as ideias que vão revolucionar o amanhã, as empresas responsáveis e inovadoras, as novas soluções para velhos problemas, assim como acções, correntes, teorias e novas formas de olhar o mundo."

Ver mais aqui.

sábado, 4 de julho de 2009

Musica portuguesa: qualquer coisa de novo que para aí vem?

Surgiram em Portugal inúmeros projectos musicais muito interessantes.

Qual é o significado disso? Poderá ser extrapolado para algo mais abrangente ou deverá apenas ser cingível ao campo da cultura?

Selecciono vários projectos: Humanos, Hoje, Deolinda, Orquestrada e Virgem Suta. Mas há mais.

São diferentes. Com objectivos diferentes. Mas todos eles recuperam uma certa sonoridade e linguagem popular e dão-lhe um rosto mais "urbano", mais pop. Mais sofisticado, se for lícita esta designação. O seu feito foi ter conseguido que esses sons e essa linguagem entre nesse público mais urbano e com isso chegar a algumas rádios nacionais que tradicionalmente não os passavam.

Será possível retirar ilações destes feitos no que concerne a uma mudança do paradigma cultural português? Será possível afirmar que este é um primeiro movimento que procura recuperar as referências portuguesas, conferir-lhes uma dimensão cultural mais legítima e que terão efeitos a prazo de contaminação noutras áreas?

Será?...


Virgem Suta - Tomo conta desta tua casa

domingo, 21 de junho de 2009

Rearranjar os sonhos, construir o futuro

"You take the pieces of the dream that you have,
cause you dont`t like the way they seem to be going.
You cut them up and spread them out on the floor,
you`re full of hope as you begain rearranging."


Keane, Lovers are loosing.



O futuro tem dois lados, um deles é aquele que acontece o outro está no sonho de cada um.

Por vezes conjugam-se, mas nem sempre é assim.

A frustração toca a todos, é um lado muito democrático da vida.

Mas a vida parece ser mais favorável para alguns. Será apenas sorte? Será porque partiram em melhores condições?

Em parte...

Mas isso não explica tudo.

Existem demasiados exemplos que contrariam essa tese.

Há que saber viver e fazer o exercício do improvável. E quando necessário atirar com os sonhos ao chão para a partir daí construir algo novo.

Vale a pena sonhar. Devemos sonhar. Está lá o nosso futuro. Mesmo que no imediato surja como qualquer coisa improvável.

Façamos dos sonhos algo vivo em nós.

Com quem conversamos, com quem nos zangamos, de quem retiramos grande prazer. Mas vivo. Em transformação permanente. Rearranjado um sem número de vezes.

Sejamos operários do nosso próprio futuro.

Falando por mim, gosto mais daquilo que conquistei do que aquilo que me foi dado.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O exercício do improvável

Não esperava estar hoje aqui. Uma sucessão de insignificantes factos, conduziram-me até aqui. Não foi a minha vontade, os meus planos eram outros e situavam-se bem próximos, não exactamente, das minhas habituais rotinas!

Ou será que factos relevantes se cruzam com a minha breve e insignificante vida? – é o tipo de ideias que rejeito. Creio numa vontade suficiente de determinação, loucura e não sei mais o quê.

É improvável que uma página fique em branco quando a tenho à minha frente. Cruzo o meu Tempo e cravo na pedra as minhas ideias como se o momento fizesse parte de um organismo vivo maior, eu, tu e todos antes e para sempre depois de nós. Cravo consciente que o Tempo depura e faz subsistir o essencial.

Simplicidade, intensidade, maturação e experiência, a vida tal como se imagina e sobretudo como ainda está para ser sonhada, a errância, a aventura – o exercício do improvável – o âmago deste sitio.

Junto-me ao teu brinde

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Let`s Misbehave!!!

Nada me ocorre de melhor para assinalar os seis meses já passados do que fazer votos para os próximos seis meses:

Let`s Misbehave!!!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

6 meses bem vividos



Este blogue sobreviveu aos 6 meses

Já tem 6 meses e tem uma visão completamente nova do mundo – e provavelmente os autores têm uma visão nova do Mundo
Parece que po momentos já se consegue sentar sozinho ao redor das suas ideias ou com algum apoio à volta dos seus desejos. Contudo, parece que para manter a curiosidade este blogue precisa de se manter interessado pesquisando diferentes brinquedos ou procurando parceiros que com ele pensem em conjunto.
Ir mais longe é apenas uma questão de tempo.
Pode tentar incentivar este movimento de avanço colocando brinquedos um pouco fora do seu alcance e provocando a sua atenção
É verdade, tem gosto em ouvir uma língua estrangeira, ou ideias que outros não conseguem distinguir
Este jovem blogue regozija com caras de pessoas conhecidas e fica igualmente feliz com os novos contactos.

O silêncio são os momentos em que as nossas ideias divagam.

domingo, 14 de junho de 2009

de regresso das mini-férias

estou de novo em lisboa ...

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Pensamento nº 6 - Felicidade, trabalho e inteligência

"Sim. É verdade. O nosso cérebro funciona melhor quando estamos a trabalhar bem, com emoções boas e positivas. Se formos felizes ou se formos amáveis com os outros, temos mais possibilidades de alimentar o nosso cérebro de forma a que ele produza bons resultados."

António Damásio, in Eduardo Punset, A alma está no cérebro, 2006.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

bIG Bang




o ambiente está denso e quente ...

por vezes perceptivel outras nem por isso.

uma amálgama de ideias, outras vezes tão certeiras


assim se criam as estrelas, universos ...

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Liberdade individual

Este é um tema demasiado complexo para esgotar num post. Mas há duas coisas que quero dizer, exactamento porque considero que são mal aceites no nosso país.

Primeiro, a liberdade individual é a possibilidade de se fazerem escolhas sobre a condução da nossa vida. E elas são pela sua natureza parciais. Só as escolhas do Estado, dos Media e de outras entidades ligadas ao serviço público é que são orientadas para o todo. Claro que isso é uma idealização, mas, ainda assim, fica a intenção, o que é muito importante. No balanço interno de uma sociedade os indivíduos são o contraponto desse todo. Caso contrário nem sequer precisávamos de democracia. Portanto, a liberdade individual é mãe da parcialidade.

Segundo, não há liberdade individual sem existir, disseminada pelos cidadãos, uma certa resiliência emocional nas reacções à opinião contrária, à incompreensão, ao erro. Aquilo que é vulgarmente denominado por tolerância. Mas não uma tolerência abstracta. Falo de uma tolerância vivida, uma tolerância dinâmica. Uma tolerência que se manifesta quando alguém nos perturba. A solução para reagir ao choque de ideias não é exigir o silêncio, mas mais explicações. A incompreensão não deve calar, deve incentivar mais conversação. A liberdade individual deve significar a possibilidade de duas ou mais pessoas opinarem, confrontando-se. Não concordar não significa não admitir que o outro diga aquilo que disse. Um projecto social que incide na liberdade individual só está completo quando existe esse grau elevado de tolerância às perturbações que advém da conversação e experiência social.

Fica agora um exemplo de liberdade individual, no caso de liberdade de expressão corporal:

The Sounds, Painted by numbers

quinta-feira, 28 de maio de 2009

A transição do discurso, uma nova forma de estar neste mundo

Lançou-se neste blog um repto: dizemos que é um imperativo assumir a necessidade de mudança. Ainda não sabemos para estabelecer o quê nem como.

Quanto a mim uma questão que deve ser debatida é o conceito de solidariedade. Por um lado, discutir que tipo de solidariedade queremos promover e, por outro, como conseguir fazer com que haja mais pessoas a intervir em prol dos outros.

A verdade é que eu não acredito na existência de uma solidariedade motivada por razões puramente altruistas. E considero que o discurso "por razões morais" já não penetra na nossa sociedade. No entanto, acho necessário aumentar os níveis de solidariedade. Defendo, em oposição à ideia estabelecida, que a solidariedade mais adequada aos nosso tempos é a solidariedade dos interesses.

Vivemos numa sociedade movida pelos interesses. Sempre foi, mas agora é assumida. Contudo esse pequeno facto altera muita coisa. Porquê? Porque cada vez é mais difícil convencer alguém com um discurso centrado na empatia piedosa. A sociedade das liberdades individuais também é a sociedade dos interesses individuais. Uma vem com a outra. Como o contrário também é verdade, quanto a mim a solução para o problema que aqui trago à discussão não passa por aderir a visões que restrijam a liberdade individual (nem marxismos, nem neo-liberalismos, nem religiões, nem ateísmos militantes)

Eu sigo por outra via. Ou melhor, eu tento seguir por outra via. Na medida em que vivo num contexto híbrido, diverso, que sobre os mesmos assuntos tem gente mais conservadora e outros com uma visão mais progressistas. Nasci aqui. Vivo aqui. Por tanto, eu próprio tenho de lidar, internamente, com as minhas incongruências. Que para já se apresentam irreconciliáveis.

Mas proponho que na visão que estamos a construir sobre o nosso modo de vida se assuma plenamente a ideia de que estamos numa sociedade movida pelos interesses individuais. E que, em seguida, retiremos consequências dessa imagem. Primeiro, deixar de julgar toda a gente, permanente e violentamente por defender os seus próprios interesses. Porque nós também fazemos isso. Segundo, que se viva a partir de um discurso (porque de facto nós somos o nosso discurso) mais adequado à situação deste mundo, mais assente nas noções de ganho e perda.

Não estou a defender a absolutização dessa visão, mas defendo um ganho de ênfase no total da nossa ecologia comunicacional.

Por exemplo, o MAS é uma entidade que pretende reunir todos os actores sociais, e é por isso uma entidade política. Tem de ter um discurso. Pode ser mais ou menos moralista. Se for moralista, terá uma política de comunicação baseada nos números, com uma interpretação zangada pelo facto de ainda termos números tão elevados de pobreza, exclusão, etc. Considerando que os números e o ralhete têm um impacto positivo sobre a alteração dos comportamentos das pessoas, nomeadamente aquelas que têm maior capacidade para mudar a situação (dinheiro, tempo, poder, trabalho). Mas numa sociedade dos interesses as reacções empáticas estão circunscritas à família e/ou amigos. Logo, esse discurso não "entra" nesses meios sociais.

Não resulta. Podemos viver em negação da realidade e viver zangados. Podemos viver numa luta quixotiana. Podemos tudo. Vivemos numa sociedade livre e ainda bem. Mas não é isso que eu quero para mim e falo para aqueles que não querem isso para si.

Se o MAS adequar o seu discurso à sociedade dos interesses, a sua política de comunicação incidirá nos ganhos que cada indivíduo da sociedade pode ter a partir dos seus gestos de solidariedade. Não conheço estudos para sustentar um discurso concreto, mas poderá incidir nas questões da redução da insegurança, na construção de uma economia mais forte, na possibilidade de ver o contexto social elogiar o seu gesto, questão que mexe com os egos, etc.

Temos de decidir o que queremos: uma sociedade mais solidária ou mais "bem intencionada". Quanto a isso sou cínico: repito, não acredito na bondade pura e importa mais que alguém tenha comida em casa ou receba educação, mesmo que o dinheiro tenha sido dado porque alguém quis receber "festas" no seu ego.

sábado, 23 de maio de 2009

Temos de ser antes de defender

A Catizzz lançou o mote, baseado em Ghandi: só podemos defender a mudança, quando nós próprios somos um exemplo daquilo que pode ser a mudança.

Esta é uma óptima base para este debate. Quando assim é a evolução faz-se orientada pela autenticidade.

Devemos ser autênticos, o que no nosso mundo já é algo revolucionário.

É aqui que me quero estabelecer para já. Começo por afirmar o seguinte: Vivemos em democracia!

Mas estranhamente, sinto que - para a cumprir na sua dimensão social e deixar que da sua vertente política evolua para as relações sociais, quotidianas - é necessário cumprir de novo uma forma de estar própria dos tempos da dituadura: a dissidência.

Antes de sabermos o que queremos para a nossa vida, quotidiano, país, ..., temos de ser autenticamente dissidentes.

Em praticamente todos os grupos, colectividades, instituições do nosso país as teias sociais montadas estão tão impregnadas de fidelidades, são tão fechadas, tão castradoras, tão hiper-sensíveis às perturbações, com uma visão tão estreita e alheia ao interesse comum, que, para muitos, estar presente nesses meios significa colocar uma máscara. Significa afastar-se de ser e defender o que se é e no que se acredita.

Não se trata de acreditar que seja possível acabar em absoluto com isso, trata-se de reduzir a dimensão da formalidade ao necessário e abrir todo o resto do espaço de trabalho das instituições e relações para a criatividade, conversação e escolha.

Deixar cada um expresar-se um pouco mais de acordo com o que é: deixar que cada um possa ser mais autêntico.

Cada um de nós tem de ser dissidente no seu espaço de acção. Isoladamente dissidente. Corajosamente dissidente.

Dissidente em direcção a si próprio.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

DAYDREAM

amanhã comento .... mas estou a gostar

deixo um som

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Desafio aos Bisturis

"Creio ser necessário rever conceitos como investimento, hierarquia, trabalho, esforço, criatividade."

Artur S.


Gostaria de convidar toda a multidão que nos segue para participar neste debate. E se poderem ou quiserem tragam um amigo.

Eu e o Artur consideramos que as coisas, tal como estão, não vão durar muito. Estamos no fim da linha de um modelo cultural que, de alguma forma, mistura tiques de ditadura com um vale tudo niilista.

Consideramos que esta forma de estar é insustentável e é um modelo que está a "quebrar".

Conceitos como investimento, hierarquia, trabalho, esforço e criatividade têm de ser reequacionados. Esse é o nosso desafio.

Está comnosco?

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Nem tanto ao mar nem tanto à terra

Os quotidianos têm vindo a tornar-se em autênticos fardos, muita gente sente que os tem completamente sobrecarregados.

É frequente ouvir da boca das pessoas a expressão, muito elucidativa: - Não tenho tempo!

Esta urgência tem várias consequências, exige que se tomem muitas decisões em espaços de tempo muito curtos, isso cria a sensação de que a vida nos foge por entre os dias passados e faz-nos pessoas exigentes relativamente à forma de ser e trabalhar dos outros.

Ficamos, portanto, muito sensíveis a quaisquer perturbações na nossa trajectória mental.

Em última análise esta pressão pode ter várias consequências, vou aqui e para já deter-me sobre duas situações, porque considero-as consequências muito frequentes. Ou bloqueamos no trabalho ou impedimos que as nossas relações se aprofundem. Este é um risco que todos nós estamos expostos. Os resultados de qualquer investimento tardam. E a pressão dos nossos dias nem sempre é contemplativa com essa necessidade de tempo. É a partir daí que muitos optam por orientar o seu esforço intelectual e emocional para uma dessas dimensões, deixando a outra à míngua, impedida de se expandir. E as consequências nem sempre são brandas.

Não existem receitas que permitam resolver estas questões, tal como se resolve um qualquer quebra-cabeças conhecido. Mas podemos estar melhor ou pior preparados para lidar com estas escolhas. Começando, em primeiro lugar, por estar alerta para esta situação.

A outra é libertar gradualmente, até um nível aceitável, a nossa pulsão moralista. Aquela dimensão que nos "obriga" a recuperar insistentemente o acontecimento passado, para o avaliar na sua dimensão moral. Na qual julgamos os outros por toda a mais pequena demonstração de falta de solidariedade, onde nos culpamos por não antevermos a embrulhada em que acabámos por cair, onde tudo é posto na categoria bipolar do bem e do mal ou entre o, definitivamente, certo ou errado.

Esta libertação serve para instrumentalizar um pouco mais as nossas avaliações. Em certas situações é importante parar para pensar. Mas mais importante do que isso, é retirar consequência daquilo que foi pensado. Para desenvolver e aprofundar relações é necessário, tal como para aprofundar a nossa capacidade de trabalho, avaliar as situações pelo que elas são. E numa próxima vez partir daí, estabelecendo-nos numa outra disposição, para reiniciar a nossa vida atarefada.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Auto-retrato ou 19:35 no mês de Agosto





# 41

Come and see
I swear by now Im playing time
I against my troubles
Im coming slow but speeding
Do you wish a dance and while im
In the front
The play on time is won
But the difficulty is coming here

I will go in this way
And find my own way out
I wont tell you to stay
But Im coming to much more
Me
All at once the ghosts come back
Reeling in you now
What if they came down crushing
Remember when I used to play for
All of the loneliness that nobody
Notice now
Im begging slow Im coming here
Only waiting I wanted to stay
I wanted to play
I wanted to love you

Im only this far
And only tomorrow leads my way

Im coming waltzing back and moving into your head
Please, I wouldnt pass this by
I would take any more than
What sort of man goes by
I will bring water
Why wont you ever be glad
It melts into wonder
I came in praying for you
Why wont you run
In the rain and play
Let the tears splash all over you

terça-feira, 12 de maio de 2009

bang bang




Há um lugar para todos.

Pelo menos é o que todos CREMOS. É ensinado na escola, mas muito menos vivido em casa. No acesso real ás oportunidades, no acesso à habitação, à alimentação, transportes e recursos todos os mundos são diferentes.

Passamos a QUERER, quando crer parece não ser suficiente, e o mundo que foi ensinado ou sonhado se parece muito pouco com aquele em que se vive. Na verdade, as insuficiências geram para além da fome, uma espécie de esturpor que inaugura a dor para além da dor, a marca da necessidade transformada em revolta, decepção, desistência e não raras vezes em obsessão febril de submergir do pântano.

Na infinita bondade e luminosa distância tudo é relativo.

Na pele física e psíquica desenham-se marcas de vidas que de tão pouco atraentes e autónomas, para não dizer hostis e odiosas, correm o risco de se tornar, quanto muito, um case study - na melhor das hipóteses e não na plena possibilidade de livre escolha.

Tomar consciência disso é brutal. Há quem se tenha envolvido nessa realidade e nela se instalou, ombro a ombro – no lugar que acreditava ser o melhor – o seu! Agnes Gonxha Bojaxhiu – Madre Teresa de Calcutá, trabalhou o que considerou ser a sua vocação e viveu no meio dos mais pobres e tratou dar voz às suas causas. “Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota” dizia. Todos parecem ser úteis na sua posição.

O respeito pela vida, a comunidade, o civismo, são experiências que nos unem na construção do mundo e que nos permitem a exploração do potencial em cada um de nós.

Insisto que se pense o conceito de construção, quem, como, para quem e por ai fora. Creio ser necessário rever conceitos como investimento, hierarquia, trabalho, esforço, criatividade.

Por último, uma sugestão – La haine, um filme de Mathieu Kassovitz, que no primeiro impacto me repugnou pela brutalidade, pelas tensões e pelas rupturas e me fazia a cada momento querer afastar daquela realidade “que não devia existir”. Hoje percebo que havia “ghettos” dentro de mim de tal modo opressores e oprimidos que me impediam de ver de forma crua a vida e de conviver com as diferenças que em mim não conseguia tolerar.

Há partes que são para morrer, outras para defender, com garra!
E se vi o filme em grande parte se deve à minha amiga pistoleira e bandida Catarina F. que nunca tinha medo de nada e odiava montes de cenas …. Bang, bang with lot´s of love

segunda-feira, 11 de maio de 2009

a propósito ...





da policia dinamarquesa ...

uma boa imagem desejável, mais uma vez um exemplo duma sociedade madura e que se pensa e que faz das rotinas momentos simbólicos e sobretudo "usáveis" da máquina do estado.

o acessivel ao nosso alcance!

cá pelo nosso país, vai uma distância - profissão mal paga, com elevado desgaste e um fosso que dista a população da segurança e vice versa.

e a propósito de cogitações utópicas também tenho as minhas, sempre achei que o convivio com mnisfestações artisticas na rua seria uma óptima maneira de dignificar e fazer viver o espaço público com aquilo que de melhor desperta em nós - escultura, música, skates, desporto, por ai ... óferece igual dose de segurança sem recurso às autoridades propriamente ditas, mas com apelo ao colectivo e ao que é nosso .... de todos entenda-se!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Realidade aumentada

Estamos numa época de extremos, com coisas terríveis e coisas espantosas.

Cada um pode escolher aquilo que quer ver:

terça-feira, 5 de maio de 2009

Nova arma da polícia dinamarquesa

A polícia dinarmaquesa decidiu fazer uma campanha a apelar à utilização de capacete dos ciclistas.

A arma foi um abraço, usando a sintonia como argumento e como forma de sensibilização. Demonstrando que não há correlação entre perda de autoridade e a demonstração de afectos. Ideia feita em certos círculos sociais.

Infelizmente...



ocupar a rua





Bom ... que dizer? estra sintonizado é muito excitante! Isto qualquer dia vem com bolinha! e com música é muito melhor ..ui ui.

Mas adiante ...

Os freudianos fariam já um importante referência à díade mãe-bebé e as suas repercussões, em que por exemplo o par amoroso na sua tendência de fusão procurariam esse ambiente regressivo.

Ocorre-me dizer que o sex XX´foi o século do povo e trouxe para a rua com maior frequência a festa, a critica, a ocupação, o direito à expressão livre e criativa.

Contudo, sair à rua, ocupar a rua, estar na rua tem hoje outros contornos

Que nos tra´zame estes anos em termos da ocupação, da vivência da rua. Pelos menos os festivais de Verão estão ai

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sintonia

Estar sintonizado é excitante - é uma das maiores aspirações de cada individuo.

A música sempre foi um bom veículo para atingir esse clímax,

domingo, 3 de maio de 2009

Poker Face

No jogo da sedução a incerteza é sempre um enorme afrodisíaco,

e por isso as relações perecem muitas vezes um jogo de poker...



Lady Gaga

sábado, 2 de maio de 2009

já agora só pra baralhar




"Pela reflexão, comedimento, auto-domínio, os sensatos podem tornar-se uma ilha que nenhum dilúvio poderá inundar." Máximas do Dhammapada, 25 - Textos Budistas

epicuro na lapa ...

“Verdade é que o homem sensato não evita o prazer, e quando finalmente as circunstâncias o obrigam a deixar a vida, ele não se comporta como se esta ainda lhe devesse algo para a suprema existência” – EPICURO

Quem tem as graças é a tal menina. Eu nem chego a ser engraçado!
Mas sem uns golpes o bisturi não tem graça!

Recomendo mesmo “disponível para amar” para entrar num jogo entre paixões e bom senso, no entanto longe do senso comum. E sim amigo, creio que apreendi à primeira o âmago do teu post. Que de resto, me parece que vai no mesmo sentido do EPICURO.

Os caminhos é que são imprevisíveis, mas os trilhos talvez rondem os que referes.

Ir...

Open up the sky this mess is getting high
its windy and our family needs a ride
I know we'll be just fine when we learn to love the ride.
I know we'll be fine when we learn to love the ride
I know we'll be just fine when we learn to love the ride.

Tim DeLaughter

sexta-feira, 1 de maio de 2009

ok já percebi - cá está a bom senso


acho que o ricardo queria dizer isto com a sua definição

está tudo mais claro

descobri a familia deles - dos bom senso

ahhh já sei

Bom senso pode ser definido como a forma de "filosofar" espontânea do homem comum, também chamada de "filosofia de vida", que supõe certa capacidade de organização e independência de quem analisa a experiência de vida cotidiana.

É a escolha de alguns critérios para decidir sobre os problemas e dúvidas encontrados. Criteriosidade, porém, pouco rigorosa. Mesmo não tendo acesso à filosofia e à ciência, alguns homens são capazes de desenvolver um senso crítico, uma sabedoria de vida, por meio da qual podem assumir uma postura de certa independência em relação à avalanche de informações e pressões ideológicas que os cercam a todo instante.

O bom senso possibilita avaliar, com certo grau de crítica, o transcorrer dos fatos e a maneira vulgar de pensar.

Refere-se ao ato de raciocinar do ser humano (juízo claro, prudência, etc).

Exemplos:

O homem teve bom senso em não gastar todo seu salário em inutilidades, usando-o para coisas realmente necessárias.

O menino tem bom senso por isso não sai de madrugada com desordeiros.

A mulher de bom senso não namora homem preguiçoso.

Quem tem bom senso sabe pensar antes de falar.

Pode ser entendido como um bom raciocínio que a pessoa tem para evitar cometer atos que possam prejudicá-la futuramente.

(wikipedia)

Disponivel para amar

quem se lembra do filme de Wong Kar-Wai? - Disponivel para amar (in the mood for love)

"O filme trata do amor platónico entre uma mulher e um homem,que se apaixonam e que são vizinhos, ambos foram traídos pelos respectivos cônjuges e ambos não se podem ter um ao outro... É um filme que vive sobretudo da insinuação em detrimento da concretização. Há entre os 2 amantes um enorme amor mas em última análise impossível de concretizar.

As performances transmitem uma sensualidade e desejo quase cerebrais, fruto de uma relação platónica, baseada na sugestão. Apesar dos protagonistas falarem muito pouco em cada cena, conseguem transmitir ao espectador a crescente paixão e emoção entre eles, cada vez que aparecem juntos no ecrã.

A estética do filme é desenvolvida através do uso extremo da luz e cor, tendo, portanto, a música um papel preponderante, na criação do ambiente. Com poucos diálogos e uma montagem quase marginal, repetem-se alguns temas musicais, em determinadas cenas, para enfatizar o estado emocional dos protagonistas e suportar a bela fotografia. Realizado a partir de um argumento quase inexistente e privilegiando a improvisação e destruíndo os clichés lamechas dos homónimos americanos do género. Para ser visto in the mood ..."

Já não sei como começam as paixões, mas são vitais, essenciais e muito benvindas e diria que quanto menos cozinhadas melhor. aqui vale o improviso e é das situações em que penso que as recitas são dispensadas... quanto mais inesperado melhor.

fica um dos temas ... pra abrir o apetite

Bom senso, senso comum e paixões

Bom senso é uma característica de personalidade que influencia a forma como abordamos as questões que surgem no nosso quotidiano, senso comum é um tipo de conhecimento alicercado no que é óbvio na sabedoria colectiva. Muitas vezes são noções que andam irmanadas, em tantas outras é bom que não estejam.

Considerar que é de bom senso estar sempre de acordo com o senso comum é o mesmo que dizer que é bom estar sempre de acordo com as maiorias. Um espírito desses deve ser mandado e jamais deve chegar a lugares de chefia. Nomeadamente, no contexto cultural em que vivemos, no qual o risco, a inovação e a aprendizagem são factores fundamentais na gestão seja do que for: empresas, associações, fundações, famílias, religiões, amigos, escolas, etc. Portanto, nos nossos dias ter bom senso deve ser independente do conhecimento do senso comum. Mais: o bom senso é capaz de compreender o senso comum, e aproximar-se dele quando fizer sentido, num dado momento e para um contexto específico. Mas quem assenta demasiado as suas escolhas diárias no senso comum dificilmente terá a liberdade para ponderar novos aspectos, para incluir novas e melhores ideias na sua acção, nomeadamente sempre que for confrontado com a necessidade de improvisar. E a capacidade de improvisação é cada vez mais solicitada pela nossa cultura.

Só uma visão empobrecida de liberdade é que priveligia a associação entre o bom senso e o objectivo de viver de acordo com o senso comum. As culturas fundamentadas nessa visão serão sempre conservadoras e dificilmente evoluem com a sua envolvente.

O bom senso também não deve ser encarado como um adversário da paixão. Pelo contrário, as emoções orientam as nossas escolhas e podem ser verdadeiros impulsionadores da racionalidade. As paixões dão-nos uma orientação duradora e impede-nos de viver ziguezaguiantes perante um ambiente complexo, diverso, cheio de oportunidades interessantes. Permitem-nos ver o futuro, assente em ideias, projectos ou visões. Por outro lado, como nos explica Reymond Boudon, o bom senso é a capacidade de em cada momento suportar uma ideia num "...sistema de razões suficientemente convincente para se impor e mais convincente que os sistemas de razões propostos pela defesa de asserções divergentes. (em O Relativismo)". É no decorrer dessas trajectórias, envolventes, que iremos alimentar o nosso conhecimento: lá se expressará o senso comum e muitos outros aspectos. Será em cada uma dessas experiências, profundas, que ganharemos densidade e dimensão. A paixão dá-nos capacidade de investir, exige-nos isso.

E por isso defendo que devemos encontrar várias paixões ao mesmo tempo - que se traduzirão numa ligação forte a várias razões, sobre as quais poderaremos o nosso quotidiano. Dessa forma preservamos o bom senso e mantemo-nos apaixonados por várias coisas da vida.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

As boas intenções e o seu efeito pernicioso

No debate público português é manifestamente difícil dizer bem. Seja um qualquer elogio dirigido ao que for. É recorrente ser censurado quando se opta por apresentar o lado positivo das coisas. Entenda-se esta censura como um pequeno gesto: um breve comentário, um som de insatisfação, uma cara de indiferença, um esgar de desconforto, etc. Por vezes também surge um argumento mais elaborado.

Mas é importante dizer que na grande maioria das vezes essa atitude, parece-me, é suportada em boas intenções. Aqueles que reagem à expressão pública que pretende enaltecer aspectos positivos da nossa sociedade não o fazem por não gostarem de coisas boas. Estão sem dúvida imbuidos de um espírito de missão e bondade. Os seus argumentos são no sentido de alertar para os perigos da visão positiva: do perigo de criar insensibilidade à pobreza, às injustiças, a existência de racismo, ao mau funcionamento das entidades públicas e privadas, à crise, etc. E dizem-no porque implícita ou explicitamente sentem que são questões demasiado óbvias, graves e que exigem uma militância sistemática.

Mas também poderemos encarar esta situação de outra forma: uma visão negativa pode criar insensibilidade às coisas boas que nos rodeiam. O discurso do declínio é manifestamente desencorajador para quem trabalhou afincadamente e sente que conseguiu atingir qualquer coisa. Mais: o discurso negativo é muito socializante no nosso meio, faz um estar social muito mais fluído. Encerrando-nos nessa mesma postura crítica, porque é fácil ser correspondido positivamente quando se diz mal, seja no café, na pausa do trabalho, na paragem do autocarro, no nosso blog, etc. E isso faz-nos sentir acompanhados, ouvidos. Exactamente o que não é possível quando se tem uma postura positiva - esse discurso é quase sempre interrompido.

Se é verdade que essa postura negativa tem o mérito de nos fazer sentir acompanhados (não é bem verdade, mas...), também é notório que retira ímpeto aos indivíduos, reduz capacidade para transformar o que está mal. Viver sobre o espectro absoluto da negatividade pode parecer mais piedoso, mais bondoso, mais sensível aos outros, mas quando é demais retira força, reduz a vontade, individual e colectiva. E isso torna-se pernicioso: porque ao retirar capacidade para mudar o que está mal perpetuamos exactamente os problemas que desejamos que não existam, e porque se tornam tão óbvios ficamos todos incrédulos acerca das razãos pelas quais eles ainda persistem.

Em conclusão: perdemos crença na nossa capacidade e adquirimos uma grande crença sobre as nossas incapacidades. E assim nasce uma religião - a crença no declínio. Nós vivemos dominados por essa visão, tal como se fosse a nossa religião. E como no seio de qualquer religião tornou-se inaceitável assumir uma atitude crítica ou distinta dos princípios que a governam, princípios que também orientam a sociabilização.

É evidente que existem, sempre existirão imperfeições nas sociedades, a realidade tem sempre um lado sujo que não pode ser descurado, mas, por outro lado, temos de ter capacidade para assumir todos esses combates, seja no terreno ou no campo das mentalidades. E essas são batalhas que demoram..., para tal é necessário gente motivada, que acredita na fecundidade das pequenas mudanças, que compreende tudo isto e está disposto a lutar e esperar ao mesmo tempo.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Mais sobre os actores sociais: "A Constitution for Social Care"

Este é um link para um documento que propôe uma Constituição para os cuidados sociais.

http://www.demos.co.uk/publications/socialcareconstitution

Esta é uma forma muito interessante de fazer política, partindo da conversação social e só depois é trabalhado pelo poder legislativo do estado.

Assim sim.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Reprodução Humana Assexuada: quando o corpo imaginado é melhor que o desenvolvido naturalmente

Não sei se estou fascinado com as possibilidades ou assustado com aquilo que pode acontecer. O que vai ser da espécie humana no futuro?

Já somos capazes de transformar o corpo e desejamos mais...

Video 1


Video 2
http://content.digitalwell.washington.edu/msr/external_release_talks_12_05_2005/13543/lecture.htm

Video 3


Video 4


...podemos imaginar mundos...saindo do mundo!...

Video 5
http://www.ted.com/talks/view/id/410

...conseguimos ir mais além: mais bonitos, mais altos, mais rápidos, mais...

Video 6


...tudo pelas melhores razões.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Os Navegadores

Vivemos num país que muito enaltece os seus navegadores. Não sou diferente dos demais. Faço-o de tal forma que se tornou parte constituinte da minha personalidade – gosto de navegar e escolho os amigos pela sua capacidade de navegação.

As características humanas que impulsionaram os nossos nesse período da história de Portugal, são tão válidas hoje como foram nessa época. Num mundo tão vasto e dinâmico como o de agora o território humano por explorar é enorme, cada vez maior e mais fascinante, tal como os mares o eram nesse período.

O outro é fonte de novidade e o futuro está nas suas profundezas, em lugares de navegação tempestuosa. São essas idas e as recombinações permanentes que delas emergem que me fazem navegar rumo ao futuro.

Procuro incessantemente envolver-me de “Novos Navegadores” – todos aqueles que vêm no outro um espaço de descoberta, imenso, pleno de vidas, histórias e culturas. Escolhi explorar personalidades, como um dia se exploraram mares. E faço-o porque preciso delas, para me mover, para me deslocar daqui para além.

Navego à vista, porque o rumo não está em mim.

sábado, 4 de abril de 2009

Pensamento nº 5 - Egoísmo versus totalitarismo

"Mas também sei que não precisamos de escolher entre um capitalismo caótico e implacável e uma economia dirigida pelo Estado.
Essa é uma falsa alternativa que não servirá o nosso país nem qualquer outro país."

Barack Obama in Expresso 4 de Abril de 2009

quinta-feira, 2 de abril de 2009

egoísmo versus totalitarismo

Hoje aconteceu na minha casa o que tem acontecido em tantas outras: o Estado errou e exige que a correcção do erro seja feita pelo cidadão.

O enredo é já um clássico. Uma repartição da segurança social envia uma carta em 2007 com uma certa informação, a outra repartição nessa altura confirmou oralmente a veracidade das informações. No dia 2 de Abril de 2009 a repartição que confirmou oralmente retira o que disse e diz que o documento enviado em 2007 é ilegal. O documento enviado pela mesma entidade, a Segurança Social, mas por repartições diferentes. Na informação de 2009 contradiz-se a informação de 2007 e aparece uma conta astronómica com dez dias de prazo de pagamento. Quem paga o erro? O cidadão. Quem assume os juros de mora de uma dívida que até então não existia? O cidadão. É assim que são postas as coisas.

Infelizmente são estes e outros acontecimentos que me impedem de considerar o Estado como uma entidade que só quer o bem do cidadão. E é por isso que não consigo acreditar na exclusividade das políticas mais estatizantes. Por outro lado, sei que uma sociedade governada apenas pelo interesse particular é uma sociedade que se despedaça, que cria assimetrias intoleráveis, e que abandona uma parte dos seus concidadãos em nome da produtividade, da moral e/ou do bom gosto. Por tal não me revejo nas denominadas políticas neo-liberais, nem nos movimentos sociais, moralistas, tanto em voga (higiénicos, estéticos, tecnofílicos, vegetarianistas, dos direitos adquiridos, etc...), nem sequer em qualquer ideia religiosa ou análogos.

Acredito na conversação e na escolha, na conversação e na escolha, na conversação e na escolha. Na mistura e na arrumação. E assim repetidamente em nome da coesão, da liberdade, da aprendizagem e desenvolvimento.

Há já algum tempo que estas duas ideias estão presentes no meu pensamento. Já há muito que deixei de dividir o mundo entre esquerda e direita. Quanto a mim são divisões empobrecedoras e desadequadas aos desafios que se avizinham. O indivíduo pode ser egoísta e desligar-se do colectivo, o colectivo pode ser opressivo e esmagar a liberdade e criatividade individual.

Qual é a filosofia política que permite potenciar a bondade e reduzir os malefícios de ambas as posições? Eis a minha questão...a minha utopia...

quarta-feira, 1 de abril de 2009

YouTube EDU

O Youtube lançou um novo projecto denominado por YouTube EDU,

http://www.youtube.com/edu

Mais um projecto de acesso a conteúdos que reforça a importância do investimento pessoal na aquisição de competências. E é também mais um desafio para as universidades de todo o mundo.

terça-feira, 31 de março de 2009

Quem sabe colaborar?

Por aqui na nossa terra é muito comum ouvir críticas à inexistência de espírito de colaboração. Dizemos nós de nós mesmos que somos incapazes de trabalhar em equipa.

Digo eu que essa intolerância é por si só um bom indicador, pois representa uma revalorização do acto de colaborar. Estas reacções são uma demonstração de que existem forças internas que permitem estabelecer limites e apontar novas trajectórias. Estamos a aprender.

Mas também é verdade que este sentimento gera enormes frustrações. A consciencialização dos próprios erros e insuficiências é a fase mais crítica de qualquer processo de mudança. Porque gera perguntas mas não dá respostas; porque gera vontade que não é acompanhada de capacidade efectiva; porque se apresenta como óbvia ao indivíduo, mas nada diz sobre a forma de intervir no colectivo. E, de repente, o tempo urge. E a urgência aumenta a intolerância. E a intolerância crónica gera isolamento. E o isolamento cria um maior desfasamento entre o indivíduo e a sua realização. E assim se desenvolve um padrão comportamental negativo.

Mas estamos aqui e somos o que somos. A recriminação pode servir de bolsa de ar, por um breve período, e a confirmação das nossas altas espectativas de que o desenrolar dos acontecimentos será negativo pode até dar uma sensação de satisfação. A confirmação é uma forma de recompensa intelectual que tende a reforçar as nossas ideias, e, portanto, tende a fechar o nosso mundo num mundo de hábitos e de pensamentos recorrentes. São esse hábitos que estão a ser postos em causa.

Alguns estudos indicam que as exigências relativas à colaboração estão a aumentar: são cada vez mais complexas porque exigem mais colaboradores, maior diversidade de competências e personalidades, maior capacidade de afirmação de cada um, maior capacidade de ajustamento de todos e que todos os membros se mantenham actualizados. Ora, se a realização dos desejos individuais depende da capacidade de realização do colectivo, esta tendência sugere que a dificuldade para implementar colaborações é cada vez maior. A valorização da colaboração é um primeira etapa para responder a essa nossa insuficiência de concretização. Falta agora aprender a colaborar. Não basta o desejo. Não basta a exigência. Não basta a intenção. No que toca à colaboração nós estamos a dar de novo os primeiros passos.

Ao vivermos numa forma de vida profundamente desajustada às necessidade de um mundo complexo criámos esse conflito entre o desejo individual e a capacidade efectiva de concretização da sociedade no seu todo. Esse desajustamento é assinalado quotidianamente pelo alta intensidade das respostas emocionais. Nós estamos dentro dum padrão de hábitos que é conservado pela intensificação das respostas emocionais. E assim não somos capazes de reverter essa insatisfação em trabalho qualificante e em tempo útil. Ou assim parece para alguns.

Sabe-se hoje que bastam pequenas mudanças nos hábitos mentais e comportamentais para que subitamente se crie um movimento cognitivo e social tão alargado e profundo que permite alterar toda a perspectiva que cada um faz da sua envolvente. Do que vejo estamos a entrar num limiar desse tipo. Cá estarei para me regozijar por viver num período tão fértil e entusiasmante.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Pensamento nº4 - assimetrias

"O desproporcionado domínio da influência intelectual por parte de um número reduzido de pessoas é ainda mais perturbador porque, ao contrário do desfasamento de rendimentos, não existe nenhuma política social que o consiga eliminar."

Nassim N. Taleb, em Os Cisnes Negros

sexta-feira, 27 de março de 2009

Assimetrias

Frase 1ª: "Os preservativos não são a resposta na luta contra a sida. Na verdade, eles agravam o problema."

Frase 2ª: "É uma crise causada, fomentada, por comportamentos irracionais de gente branca de olhos azuis"

A primeira afirmação é do Papa. Foi muito falada. Indignou muita gente e bem. E é de facto espantoso, mas não inesperado, como alguém com tanta responsabilidade use o conhecimento científico desta forma. A ciência já está a reagir através de uma das publicações mais prestigiadas do mundo na área de medicina, a Lancet. Esta revista exige que o Papa se retracte das suas declarações. (ver http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1371147&idCanal=11)

A segunda afirmação é tão chocante como a outra. Foi há muito pouco tempo que rebentaram guerras mundiais, num período em que todas as pessoas eram classificadas por traços físicos. A ciência desenvolveu uma discipina que classificava toda a gente pelas suas características físicas e associava-as a tendências para o crime, para o alcoolismo, para uma inteligência reduzida, a certas profissões. Foi uma forma terrível de racismo(Sobre este assunto ler "A Guerra do Mundo" de Niall Ferguson). O ódio criado aos judeus e a outras culturas surgiu da repetição deste tipo de afirmações, ditas continuadamente e por um longo tempo, associando-os a tudo o que acontecia de mal na sociedade alemã e noutras nações.

Será que esta afirmação terá o mesmo tratamento nos media, será que indignará tanta gente como a primeira afirmação.

Eu sinto-me igualmente ofendido por ambas. Fico à espera dos desenvolvimentos...

Mas avanço uma hipótese: por ser quem disse, uma figura simpática aos meios intelectuais europeus, a tolerância vai ser muito maior. Vamos ver...

A declaração: http://economia.uol.com.br/ultnot/multi/2009/03/26/04023268CCC18326.jhtm

quinta-feira, 26 de março de 2009

Dúvidas

Como é que se pode organizar uma Escola/ensino que transcenda os limites gerados pela vivência numa cultura com uma identidade forte? Será possível? Ou será possível minimizar os seus efeitos?

Num mundo globalizado o ensino da inter-culturalidade é um benefício? Existe o risco de ser perderem identidades locais? Quais são?

Quais são os impactos dessas abertura para a criatividade? Liberta-a ou é um movimento que nos uniformizará?

hoje à noite

domingo, 22 de março de 2009

Libertar os fantasmas que nos habitam

A sociedade contemporânea está organizada em moldes nunca antes vividos pelo ser humano. Estamos a experienciar algo de único. Após milhares de anos de evolução mental e social os seres humanos acumularam muito conhecimento. E não só pretendem mantê-lo armazenado como disponível para uso social. Mas essa acumulação acabou por tornar necessário desenvolver inúmeras especialidades. Resultado: cada um de nós ficou mais complexo e a nossa envolvente ficou mais complexa. Por outro lado, aumentaram os fluxos migratórios, comunicacionais e de produtos, e, gradualmente, as sociedades tornaram-se multiculturais. O efeito desse processo tem algo de análogo com o acto de baralhar cartas. Tudo se mistura, as zonas de fractura cultural, ética e política deixam de estar organizadas por fronteiras definidas e introduziram-se no seio das relações sociais, quotidianas. Que entraram também como fantasmas dentro de cada um de nós.

Se aceitarmos que os seres humanos são reféns das suas próprias experiências - que o olhar de cada um sobre o mundo depende muito das particularidades dessas experiências - da forma como são vividas e interpretadas - e se aceitarmos o que foi dito anteriormente, então podemos concluir que a nossa normalidade é hoje vivida num ambiente fracturado. Esse é um aspecto caracterizador e factor determinante na forma como são moldadas as nossas vidas, os nossos pensamentos, sentimentos e as nossas relações. Torná-mo-nos numa sociedade de nichos cognitivos. Onde cada um vive no seu. E não poderia ser de outra forma: ninguem é capaz de ser totalidade quando a totalidade é imensa.

No entanto, estas características da sociedade contemporânea pressionam o nosso meio interno para também se inter-culturalizar. Hoje é mesmo impossível organizar a vida assente num conjunto de valores coerentes e essenciais. A actual rejeição filosóficas dessas éticas e a emergência do pós-modernismo, relativista e pluralista, é a reacção natural de uma parte da sociedade que procura soluções para estabelecer uma convivência social mais sã, mas que conserva a vontade de fazer parte de uma sociedade do progresso. Esta será uma nova fase, mais humanista, que se centra na ideia de que são precisos todos para continuar a manter vivo esse nobre objectivo.

No passado, quando na sociedade proliferavam as rotinas de pensamento e comportamento e quando as sociedades estava “arrumadas” no espaço, estas éticas eram adequadas. Mas essas éticas convivem mal com a diversidade. Os indivíduos que se governam por esses pressupostos vivem hoje numa tensão brutal. Vivem sobre uma pressão desintegradora quotidiana. E alguns desses tornam-se brutais, por vezes passivos, por vezes violentos, demasiadas vezes brutais. A expressão “perda de valores” muitas vezes citada é definidora de um sentimento que gera uma enorme frustração e desânimo. Infelizmente ainda há uma mancha de gente, da base ao topo social, que não conseguiu trazer para um lugar relevante do seu cosmos interior toda essa diversidade que não reina mas já convive no seu mundo interior e exterior. Este últimos são simultaneamente os mais agredidos e, paradoxalmente, tornaram-se os maiores agressores.

Não podemos continuar a pretender ser universais. As éticas pluralistas ao valorizar a diversidade permite encará-la como algo benéfico. Mas esse é só o primeiro passo para conviver de forma pacífica, curiosa, com o diferente e com o estranho. São simultaneamente éticas que não pretendem definir a priori trajectórias de vida, nem identidades. Procuram dar um balanço novo à sociedade: promover a convivência entre o nicho e os outros. Esses outros tantas vezes incompreensíveis numa primeira impressão. A sociedade necessita de fazer essa revolução cultural de modo a reverter esse sentimento de perda que se mantém obstinado e a travar a expansão dessas vidas.

Há todo um mundo interno que pode ser explorado, que faz de nós seres suficientemente imensos, cheios de recantos, de lugares por conhecer, fonte de criatividade, onde vivem espelhados e aprisionados os outros. Os outros, estranhos, que já vivem dentro de nós.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Actores sociais - Onde estão? Quem são?

A associação CAIS está neste momento a colocar estas duas questões - onde estão e quem são os actores sociais? - e muitas outras no seu 8º Congresso.

Clay Shirky dá-nos algumas respostas sobre onde estão e quem são os potenciais actores do futuro: - Estão em casa a ver televisão! É aí que está a maior base de recrutamento para a intervenção social em todos os domínios. Tal como ele afirma está aí um elevado "Excedente Cognitivo" das sociedades modernas.

Muitos deles só precisam de um pequeno inventivo outros de um espaço onde possam expor as suas ideias, e, pela visão dos grandes números, basta uma pequeníssima alteração de hábitos da grande massa de gente para modificar o panorama dos recursos disponíveis e provocar grandes impactos (positivos, espero...) ao nível social.

Esse é um recurso por explorar em prol dos agentes sociais que estão no "terreno".

Essa é uma das revoluções necessárias para fazer na mentalidade das populações mundiais: a tecnologia pode ser promotora da intervenção social. Da massa pode surgir UMA grande solução de tempos a tempos; pode vir de um tipo que apenas de dedicou a esse problema um mísero minuto.

quarta-feira, 18 de março de 2009

1%!!!

100 mil foi o número avançado no último programa "Prós e Contras" da RTP1 de portugueses que estão agora em Angola. Equivale a 1% da população portuguesa.

A ser verdade é espantoso! Vivemos num tempo de fluxos, num tempo de oportunidades.

Isto demonstra que há cá quem se atire para as coisas. Que arrisca. Que não está satisfeito e retira consequências dessa situação.

Boa sorte para todos eles!

terça-feira, 17 de março de 2009

segunda-feira, 16 de março de 2009

I HAVE A DREAM

Caro, num post anterior chamas bem a atenção para o período pós 25 de Abril.

É já um consenso, a constatação de que os países que sofrendo as grandes guerras tiveram oportunidade de se reconstruir, de tal modo, que geraram não só riqueza, como bem-estar social. Também nós, temos uma democracia recente e acredita-se que talvez 30\40 anos, sejam suficientes para dissipar as antigas motivações politicas que, naturalmente, incendiaram e continuam a ditar rumos como ponto de orientação num horizonte social que se quer a par da restante Europa.

Há nostalgia, timidez, inexperiência, rasgos de lucidez, iniciativas, e por ai fora. A habitual variedade que se assinala perante a incomensurável imensidão do mundo, de nós própriOs, na medida exacta que simplesmente desconhecemos! Contudo, sinto que comO povo somos uma manta de retalhos. É apenas uma impressão pessoal.

Realizámos ainda muito pouco, acerca da nossa história mais recente, no que toca a produção literária e histórica, estudos sociológicos, ensaio. Igualmente no plano artístico. Insisto que a formação pessoal, será tanto mais rica quanto menos funcional, mas mais HUMANA.

A minha hipótese é a de que temos que fazer a digestão à nossa medida, uma digestão de tudo aquilo que nos tem alimentado ao longo dos anos. E crescer com base nesses nutrientes. Uma teoria de Desenvolvimento Social. Não adianta dizer a um obeso, a um guloso, a um anoréctico o que há-de comer. Pode-se dizer o tempo do come e cala já terminou há muito, para uns – outros nem tanto. Mas mudar uma dieta não é simples e implica uma adaptação gradual e orientada. Há dias em que não se come, outros que se come o dobro, outros que convidamos amigos, outros em que se vive isolado … a pensar que volta dar à vida. È claro que não vou teorizar vagamente sob o infinito de possibilidades. Mas reflectir sob a nossa condição implica termos consciência de nós, e que melhor espelho e possibilidade de crescer por dentro e por fora senão através do exercício quotidiano da nossa escolha, como cidadãos duma comunidade. as decisões - são abruptas, intensamente pessoais, mas o processo gradual e resultado do visivel e do invisivel.

Temos um tempo que nos antecede e que devemos considerar, quer o desafiemos ou respeitemos.

Tudo que se faz tem uma comunidade por referência e necessidade de interpretação nesse nível.

O plano individual é favorecido se articulado com a dimensão colectiva e o contrário também.

Desafios actuais temos muitos, uns mais démodé – a abertura à Europa, a gestão das fronteiras; outros na berra – a falência do sistema capitalista e as suas consequências e impunidades; a governação per se.

Qual a nossa capacidade se pensar em conjunto? Regula-se na exacta medida que nos interrogamos e arriscamos acerca do que fazer individualmente e de mobilizar os nossos mais próximos.

Viver não é passar pela vida, é com que ideias e com quem se passa pela vida e o que juntos fazemos dela. E o que não sabemos, mas desejamos chama-se sonho!

os ânimos estão exaltados?

Neste período de crise os ânimos exaltam-se! Em período pré-eleitoral os ânimos exaltam-se! Estas são conclusões recorrentes de muitos comentadores da nossa praça.

Mais recentemente o PS e alguns meios de comunicação exaltaram-se. Surgiram notícias em catadupa sobre Sócrates, nomeadamente na TVI, e a entourage do PS veio ao terreno defender o seu líder e atacar os meios de comunicação social. Conclusão previsível dos nossos comentadores: Neste período de crise os ânimos exaltam-se! Em período pré-eleitoral os ânimos exaltam-se! Quanto a mim essas conclusões dão a entender que a exaltação é um mal em si mesmo. E isso parece-me pobre, apenas isso.

O que existe nesta questão é uma luta pelo poder. Tem sido frequente ouvir alguns jornalistas a defender que neste enquadramento político são a única oposição efectiva ao governo. Será que essa é a sua missão? Por acaso nós estamos em Angola, na Rússia, na Birmânia? Ou em qualquer outro país onde a liberdade de expressão não é tolerada. Contudo essa retórica já prespassou para alguma sociedade civil. Infelizmente. Basta ouvir muitos professores, por exemplo, que consideram que o governo está a tentar condicioná-los na sua liberdade de expressão. Sentirem-se condicionados é que é uma barbaridade!

Por outro lado diz o dirigente do PS (podia ser outro partido), José Lello (DN, 16 Março, p. 9): "A TVI é a estação que mais abusa da liberdade de informação (...) o seu director já era useiro e vezeiro a manipular a informação quando tinha um cargo na RTP". Aquilo que este político diz não é do tipo: nesta notícia da TVI, do dia tal sobre o assunto tal, sobre Sócrates foram retiradas conclusões que estão muito para além do que as fontes informam. Nem demontra que as fontes não são credíveis. As abordagens podiam ser inúmeras. Todas democraticamente válidas. Acusações genéricas não são.

Quando as avaliações políticas são genéricas e quando as interpretações jornalísticas são demasiado criativas perde a democracia. Porquê? Porque a informação começa a empobrecer - a informação que é a base das escolhas democráticas. Eu vi muitas das reportagens da TVI e as conclusões pareceram-me manifestamente criativas (infelizmente não tenho aqui informação para fazer uma análise mais concreta), estas afirmações vindas de um político do partido do governo sugerem uma tentativa de condicionar o trabalho do visado.

O problema é que este é um problema estrutural da nossa democracia: o facto de termos um governo que administra uma máquina tentacular e uma sociedade civil que se sente asfixiada, fez desta um agente obsessivamente centrado na acção do agente considerado responsável por essa condição (tanto para dizer mal como para pedir ajuda) - o estado e os governos. Estas reacções parece-me provir desta dialéctica que persiste na sociedade portuguesa entre quem tem poder. E que os faz andar distraídos e distrair a própria sociedade civil.

Ao lado desta disputa está a uma sociedade civil que emerge cheia de qualidades, na sombra das janelas mediáticas, mas cheia de força, motivada, com ideias, competente, realista. O que falta é que os seus ânimos se exaltem. Têm de se assumir como agente da mudança. Têm de lutar pelo seu poder: o da sociedade civil.

domingo, 15 de março de 2009

until the end of the world

And we - are criminals that never
broke no laws
And all - we needed was a net
to break our fall

P`la escolha, marchar, marchar!

Os portugueses têm feito escolhas. Mas parece-me que a grande maioria dos nossos concidadãos não valoriza convenientemente essa ferramenta da democracia.

Porque fazem escolhas não significa que as valorizem, significa apenas que o contexto político e social dá espaço para que essas escolhas sejam feitas. Uma grande parte dos portugueses escolheram queixar-se. Pensam sobre a sua vida e queixam-se. Isso é uma escolha. E é uma escolha com profundas consequências. A sua expressividade tornou-se simultaneamente arrogante e passiva: ao avaliar o comportamento dos outros, cheios de impaciência e intolerância, tornaram-se arrogantes; ao fazê-lo sem assumir consequências políticas e sociais dessa expressão, que é o dever de quem sabe e é isso que apregoam publicamente quando julgam e se queixam dos outros, ficaram passivos.

Para muitos isto deve-se à herança do passado. Concordo com essa posição. Durante muitos anos "fomos" proibidos de expressar as nossas inquietações e propostas publicamente. Foi também proibida o direito de associação, o que feriu concerteza a capacidade de organização social, que deixou e deixa um lastro na nossa vivência cultural neste período democrático.

Digamos que essa explicação é certa, mas não pode ser razão para assumir a imutabilidade da nossa cultura. Todas as sociedades têm capacidade de regeneração. De assumir rupturas. Ora, essa disposição "exige" que se olhe para o futuro. Olhando para o que fomos sem nostalgia, e também não como uma fatalidade. Parte desta ruptura depende de um processo de revalorização da cultura portuguesa, que demora tempo e exige muito diálogo. Exige a mudança de muitos comportamentos individuais. Mas é possível do ponto de vista governativo oferecer às pessoas maior capacidade de gestão do seu destino. Assumindo que isso gerará uma valorização social da escolha.

Começemos a valorizar a escolha: deixemos que os pais escolham as escolas para onde gostariam de levar os seus filhos; deixemos que cada pai escolha o nome que quer para o seu filho; assumamos que as obras particulares não têm de ser autorizadas pelo estado; deixemos as famílias e as localidades escolherem parte dos programas escolares; liberte-se parte do dinheiro dos impostos para as autarquias; aumentem-se as funções das juntas de freguesias; desenvolvam-se políticas para regenerar o funcionamento da universidade privada; reduza-se o âmbito dos concursos públicos e responsabilize-se os altos quadros do estado pelas suas escolhas; pare de se proteger de forma tão intensa trabalhadores, empresários, entidades estatais; rejeitem-se discursos fatalistas e unitários dos políticos; etc...

Uma democracia é mais do que um regime político quando a vida social e política desenvolve-se no sentido de aumentar as opções dos seus cidadãos.

sexta-feira, 13 de março de 2009

educar?

Há muito que ando a pensar e a discutir questões ligadas ao sistema de ensino. Ontem tive uma discussão muito interessante! Apresentarm-se em confronto duas visões que divergiam num ponto fulcral - na resposta dada à seguinte pergunta: para que serve o sistema de educação?

Eu defendi uma proposta de redução dos conteúdos de história de Portugal. Palavras que "alertaram" a pessoa com quem discutia, pois considerava incompatível a função da educação, enquanto promotor de certos valores, com a redução da história de Portugal. Para ele essa disciplina é um veículo fundamental de transmissão dos valores da identidade nacional, e esses deveriam estar incluidos no pacote das funções da educação.

Não discordo dos princípios por trás dessa visão. Mas rejeito a ideia de que a consciência da existência de uma história comum seja o melhor veículo de transmissão de valores. Acho até que é, cada vez mais, um empecilho ao nosso desenvolvimento social. Eu não quero formar "bons" cidadãos portugueses, acho mais importante formar cidadãos para o mundo. Cidadãos prontos para lidar com um mundo global, evolutivo, complexo. E por isso cidadãos abertos à conversação e aprendizagem.

Ser português não se ensina teoricamente, vive-se. É-se devido às relações preferenciais que se estabelece ao longo do desenvolvimento. Acho mais importante retirar ensinamentos da nossa história para o fim que estabeleci. E usar a sala de aula como um espaço de construção e aprendizagem, vê-la como um laboratório de cidadãos plurais. Ora isso exige mais tempo por cada episódio, por isso, sobra menos tempo para dar toda a história de Portugal - do dia 0 a 1900 e qualquer coisa. Para mais existem outros veículos para ensinar história: família, museus, informação no espaço público, televisão, net, jornais, revistas, cd-rom`s, clubes, palestras etc. A educação deve ser vista de forma mais global e articulada.

Portanto, defendo menos conteúdo formatado, que é limitante, e proponho mais formação no sentido de promover a afirmação do cidadão português no espaço público, global.

quinta-feira, 12 de março de 2009

in vino veritas

Diziam os romanos que o vinho soltava a língua - e que isso nos induziria a falar verdade.

Não gosto do uso corrente que se faz da palavra verdade. Mas sem vinho ou com vinho o "bisturi" pretende enebriar todos os seus colaboradores, levando-os ao ponto de libertar a língua.

Dizer de sua justiça.

É isso que aqui estamos a fazer.



Vampire Weekend, Oxford Comma

quarta-feira, 11 de março de 2009

já não se percebe esta juventude!!



porque razão ninguém fez posts ao vinho??
estão numa de politicamente correctos?

Como é que é possível?!

Quando estava a tirar a licenciatura tinha um colega que me contou uma história engraçada. Ele vivia em Manteigas e estudava em Évora. Por isso ia pouco a casa. Mas sempre que lá ía a mãe fazia sempre o mesmo comentário: - filho estás cada vez mais magro!...

Ao fim de um ano ele aproximou-se da mãe e disse-lhe, já cansado do comentário: - Mãe, eu já devia ter desaparecido! Quando começei a universidade era magro e estou a emagrecer sucessivamente desde essa altura. Como é que é possível?!

Essa é a questão que quero colocar a muitos portugueses: como é que é possível?!

Como é que é possível que um país, já de si magro, esteja a emagrecer à tanto tempo?

Estou farto do discurso do declínio! Farto!!! Existe para aí uma enorme cambada de queixinhas e maldizentes. Estou farto!!!

Só espero que seja um sintoma de crescimento: está difícil a sociedade portuguesa passar para a idade adulta - a idade onde cada um se afirma pelo que é e faz o que sabe fazer. Temos evoluido em quase todas os sectores, na educação, na sinistralidade, na produção de tecnologia, na oferta de lazer, na produção musical, na saúde, na economia, na ciência, na abertura de mercados como os media, energia, comunicações..., já pagamos mais impostos, exigimos mais aos políticos, criamos associações e sindicatos com capacidade de trabalho e de influência, começam a surgir empresários que apostam na sociedade, já compreendemos o valor da requalificação urbana, estamos na linha da frente na utilização social das novas tecnologias, aceitá-mos rapidamente o telemóvel com parte da nossa vida, concebemos reguladores independentes, criámos uma instituição eficaz na fiscalização do sector económico, etc....

Tudo isto é emancipação social e política. Tudo isto acontece aqui!

Enquanto indivíduos temos demasiados estados d`alma, demasiada crise existencial.

Dá-me ideia de que o país não emagrece porque é colectivamente inteligente.

Mouchão com ternura

terça-feira, 10 de março de 2009

Proponho




FAZ PARTE DA MINHA HISTÓRIA DE VIDA E TORNOU-SE UM HÁBITO!

Se a história do mundo está por se fazer e se somos apenas mais um ponto insignificante no eterno talvez a chave seja seguir o movimento perpétuo e assumir a nossa singularidade entre os nossos pares e fazer valer isso, lutar como se sonhássemos.

Contudo somos personagens fruto de outras histórias.

Todos nós temos uma história e creio que vivemos para a contar.

A linguagem dos sonhos é universal e manifesta-se nas diferentes culturas de modos misteriosos. Contudo temos desistido facilmente dos sonhos e tomamos parte da realidade como toda a vida. Funcionar não é viver, mas é fundamental para viver.

Viva as histórias, as paródias, as zonas misteriosas e obscuras, o que não é óbvio mas é claro!

Proponho abrir uma garrafa e demorarem-se hoje à conversa com quem esteja por ai, ou mesmo sozinhos, ou convidarem alguém ... como preferirem. eu cá vou!

À vossa

segunda-feira, 9 de março de 2009

Somos todos esses turistas

"Estamos convictos, dentro desta moldura metafísica, que não há continentes por descobrir; nem ilhas de refúgio onde buscar miragens paradisíacas; colocados perante a nossa consciências de universalidade, pela primeira vez na história, é-nos vedado erguer andaimes em redor de qualquer felicidade, qualquer justiça, fraternidade ou optimismo; coisas essas que o nosso afã de saber e de criar arrojou ao nada absoluto.
(...)
Vivemos assim, à escala universal, as nossas penas e calamidades, clausurados em limites que sabemos intransponíveis por agora, teimando ao mesmo tempo por transpô-los, com o estratagema da técnica ou da mente, a fim de ir ancorar em sítios menos trágicos, desertos por fugir à condenação daquilo que somos.
(...)
O racionalismo ocidental, vertido sobre toda a Terra, soube formular um ou outro diagnóstico, mas nunca foi capaz de nos brindar uma solução. E as crises que hoje assoberbam os dois regimes, o capitalista e o comunista (movidos embora para mesma metafísica, como dizia Heidegger), são provas acabadas da impossibilidade a que me refiro. Não sabemos assim porque viemos a este estado, e ignoramos para onde vamos."

Vintila Horia, Introdução à literatura do século XX, 1976

domingo, 8 de março de 2009

PAISAGEM TORMENTOSA - Rembrandt



(…) Luciana atirava a um lado e a outro olhares vazios de turista quese desloca para ser visto ou unicamente por esse imperativo de movimento e de acção que é apanágio das formigas, desde séculos imemoriais, e que pode considerar-se o fulcro do espírito ocidental e da civilização vigente. Os turistas são o quarto reino da Natureza, a que preside o sentido da desorientação, são os ímpios da ocasião, e, em geral, os profanadores de muita coisa admirável e obscura, tanto como consagradores de mediocridades. (…)

(Agustina Bessa-Luis )

Com paixão!