terça-feira, 30 de dezembro de 2008

isolamento?

Será que encontrámos um assunto que interessa visceralmente a ambos? Falemos então de identidade e individualidade.

Começo por dizer que o isolamento de que estou a falar não é o isolamento físico dos antigos ascetas religiosos. Nem a competição exacerbada se cinge às questões profissionais.

O isolamento do século XXI é uma consequência do mundo complexo em que vivemos, nesse contexto surge uma dificuldade em dar um sentido às coisas. Esta sociedade exige mais da racionalidade mas a capacidade de processamento mental é cada vez mais insatisfatória. E, quanto a mim, é também deste afastamento, dos fluxos de sentido ou racionalidade, que emerge a “fome” de afectos. Aspecto essencial da racionalidade, como muitos defendem, entre eles António Damásio (em "O erro de Descartes"). Portanto, sem capacidade de gerar sentido, o confronto do indivíduo com a realidade faz-se directamente com as estruturas mais profundas da personalidade – os valores.

Esse relacionamento deixa de ser amortecido pela racionalidade e/ou pela imaginação. Se isto que estou a dizer é verdade, compreende-se o desespero e a destemperança de tanta gente. Pois as suas experiências são sentidas como validações da sua própria identidade. Nomeadamente, a opinião dos outros têm o efeito permanente de legitimação ou deslegitimação da sua própria existência.

O que defendo é que esta dinâmica é exacerbada pelas narrativas que orientam a nossa socialização, que são baseadas em narrativa de identidade essencialistas. Nas quais os valores, e todo o discurso concordante com a sua lógica, são os principais elementos de sustentação da individualidade. Mas sobre isso espero dizer qualquer coisa em próximos posts.

Por outro lado, o que queria dizer quando referi a expressão “competição exacerbada” insere-se no nosso contexto cultural, que é cada vez mais o da cultura mediática. Esta cultura caracteriza-se pela excessiva valorização da notoriedade e por uma certa competição pelo tempo de atenção.

Acontece que estas necessidades tornaram-se objectivo na nossa cultura, e vão para além da vontade individual de aparecer na televisão ou noutro meio de comunicação. Esse desejo é já uma consequência dos nossos valores de sociabilização, e que gerem uma parte importante das nossas acções, neste mundo tecnologicamente mediatizado (o desejo de aparecer na TV será também subsequente, porque também alimenta essa cultura). Mas os espaços de atenção em qualquer relação (ou suporte) são limitados, portante é a forma como os encaramos e valorizamos que pode tornar mais ou menos determinante para a vida de cada um a quantidade de atenção que recebemos.

Tenho vindo a notar uma certa escalada nas reacções ao sentimento de exclusão dos afectos. Isso parece dever-se à mediatização crescente da sociedade portuguesa. Como se procura reconhecimento imediato, a atenção é uma forma necessária de apaziguar e tornar funcional os espíritos tumultuosos com os quais convivemos. Substitui o afecto (qualitativo) e gera a sensação de que se está dentro do fluxo gerador de sentido. O que pode ser irreal. Mas apazigua o espírito por momentos. Mas a cultura manda, o valor orienta, a insuficiência mantém-se e a disposição de competir por esse espaço impôe-se novamente. Gerando os mesmos padrões comportamentais dos vícios.

Actualmente uma pequena falha na capacidade de gerar esse reconhecimento, cada vez em mais situações e num maior número de vezes, são tidas como determinantes. Desenvolveu-se uma hiper-sensibilidade a essas questões. São sentidas como falhas na lealdade, e, demasiadas vezes, com consequências catastróficas nos relacionamentos pessoais e profissionais. Digamos que, de acordo com a mesma lógica, são os valores dessas pessoas que são postos em causa, logo a sua identidade.

É assim que relaciono os fluxos de sentido, de afectos - a racionalidade - com a competição exacerbada – ter pertença nalgum fluxo de racionalidade - como os consequentes sentimentos de exlusão e reacções à sensação de isolamento.

Continuação segue dentro de momentos.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

anotações

Óptimo esse desafio – o da individualidade.

Antes de mais deu-me gozo neuronal ler o texto. Ideias a reter – poder dos fluxos vs. fluxos de poder; contradição entre escolha (desejo de ser) e necessidade (“exigências” vigentes do meio).

Agora umas dúvidas:
1. Quanto ao isolamento dos indivíduos, fala-se de uma competição excessiva. Que relação há entre os dois, gostava perceber melhor. Trata-se de um isolamento de uns indivíduos face aos outros ou do isolamento face ao meio. Os dois?

Entendo esse isolamento e toda esse vocabulário à luz de um modelo de matriz naturalista. A ideia que me ocorreu não foi nenhuma das anteriores mas pareceu-me que se tratava de uma competição sem especialização. Ou seja, todos os indivíduos são iguais entre si, não competem com diferentes funções ou com diferentes “ferramentas”. Como se todos fossem mais parecidos entre si inspirados por um modelo único – monolítico. Aumento de conflitualidade, saturação de forças in extremis, para um único objectivo. Digamos muitos e muita força, muita atenção à volta de pouco.

2. Mas claro que te referes a um modelo social e por isso nessa conflitualidade como se gera essa oportunidade de restringir do vasto para o muito especifico no real quotidiano? Porque muitos escolhem os mesmos? Porque parece “atraente” ou direi parasitária essa lógica? ( como se fosse uma erva daninha, que ocupa os terrenos e vinga em cima das ervas boas aniquilando-as)

Mas o melhor veio no fim.

“Temos de alterar a forma como nos definimos e definimos os outros e assentar a identidade em narrativas do devir, em oposição às narrativas do essencial. Esta é, quanto a mim, a forma de libertar todo o nosso potencial em prol do indivíduo e do seu colectivo. Para tal é importante assumir a importância das nossas reservas de personalidade. O que não é visto como central na nossa identidade.

Podemos ser seres mais vastos...”

Conceitos que me atraíram e gostaria de ver desenvolvidos:

- narrativas do devir
- reservas de personalidade

É pena é só desenvolveres estes assuntos no próximo ano, que tal este? Ainda tens uns dias? acho que não é vasto, é enoorrmee!

algo mais vasto

O ano está a acabar. Deixo neste post um mote para 2009. Julgo que será o assunto sobre o qual mais me debruçarei no próximo ano. Bom ano!


A evolução das sociedades coloca ao ser humano enormes e fascinantes desafios. Entre vários pretendo destacar os desafios à individualidade.

De acordo com Manuel Castells a preponderância social das sociedades actuais está no poder dos fluxos e menos nos fluxos do poder. Parece que sim. De facto, poder-se-á subentender nesta ideia que está a crescer uma tensão entre o desejo de se ser e as exigências solicitadas pelo ambiente, que cada vez é mais exigente. Cresce assim um sentimento geral de que é cada vez mais difícil ser o que se deseja ser, porque se assume que se tem de ser o que for necessário ser. Sendo, neste contexto, a necessidade oposto da escolha.

É fundamental referir aqui que esta tensão só faz sentido na medida em que vivemos num período de transição, no qual convivem valores do passado, cuja filosofia que prevalece é a da auto-determinação do indíviduo, em conjunto com novas pressões do mundo complexo que requerem outras formas de lidar com novas formas sociais. E esses valores surgem parcialmente contraditórios. A noção de liberdade tal como se desenvoveu aqui no mundo ocidental presume que deveremos viver a partir das nossas escolhas. Está claro que esta é a visão abstracta da coisa. Efectivamente sempre foi e será preciso lidar com os outros e com a realidade natural, respeitando em parte as escolhas dos primeiros e vivendo de acordo com as leis da segunda. Tudo isto são condicionantes à nossa auto-determinação. Salutares, digo eu.

Talvez seja essa a tendência da chamada globalização. Qualquer sociedade - para se tornar mais complexa, tal como um edifício - necessita de fundamentos sólidos. Tem de existir um núcleo de valores partilhado entre concidadãos que vai criar uma zona cuja intensidade de fluxos, de que fala Castells, é elevada. Portanto, uma zona de conflitualidade mínima.

Inclusivamente, vai-se tomando consciência de que a competição exacerbada, que isola os individuos numa lógica de cada um por si, já não é capaz de responder inteiramente aos desafios colocados pela complexidade. Na qual os problemas que se apresentam são também eles mais complexos. Acontece que a consciencialização dessa falência é um período onde surgem oportunidades para os discursos e ideologias homogeneizantes.

A análise de Manuel Castells pode servir para alertar para essa dinâmica de colectivização das identidades individuais. O indivíduo imerso nesta imensidão cultural vai sentindo que não é capaz de acompanhar todas as mudanças que lhe vão sendo exigidas, essa crescente noção da incapacidade individual oferece oportunidades para as lideranças unificadoras, ambiente esse que é propício à emergência de profetas e salvadores da humanidade. Os clamados por muito “defensores da ordem”. Estas figuras trazem com as suas mensagens claras uma sensação de ordem, de sentido das coisas, de sentido de pertença. Aconchegam porque simplificam. Acontece que isso se faz à custa da identidade, liberdade e livre-arbítrio. Criam um lugar para todos e não um lugar para cada um.

Mas esse caminho não me parece resolver os problemas da nossa sociedade. Pelo contrário, são uma traição à sua própria natureza. Procuram homogeneizar e desta forma reduzir a incerteza, complexidade e a criatividade humana. Mas estas são propriedades intrínsecas de uma sociedade rica e desenvolvida. Considero que a solução para algum sentimento de desespero, que está a ser agravado pela crise económica e social, deve passar pela conciliação entre os valores do passado com os desafios colocados pelo presente. É fundamental ensinar os indíviduos a conviver com o incerto, o pendente, o incompleto e o incoerente. Esses são os valores por onde passa a felicidade de cada um num ambiente complexo. Temos de alterar a forma como nos definimos e definimos os outros e assentar a identidade em narrativas do devir, em oposição às narrativas do essencial. Esta é, quanto a mim, a forma de libertar todo o nosso potencial em prol do indivíduo e do seu colectivo. Para tal é importante assumir a importância das nossas reservas de personalidade. O que não é visto como central na nossa identidade.

Podemos ser seres mais vastos...

domingo, 28 de dezembro de 2008

De regresso

videos fantásticos os 2!

para já deixo um som ... "Imitation of Life"

porque preciso de baralhar e voltar a dar ok?

até já

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Equilibrios nº2

A ideia de ver Santana Lopes mais uma vez num cargo público é mau de mais.

Mas o ser humano é também capaz do melhor.


quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Equilíbrios...

Depois de ver tristemente confirmada a candidatura de Santana Lopes à CML aconteceu que encontrei a notícia deste projecto...



...e uma coisa equilibrou a outra.

sábado, 13 de dezembro de 2008

o medo é próprio dos fracos?

O papel é um espelho e absorve todas as manchas todas as impressões e até todos os pensamentos em branco quando a folha fica quieta inalterada depois de um confronto inglório.

Ocorre-me a palavra - planisfério


quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Confúcio dixit

"Ao bem, o bem; ao mal, a justiça"

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

2002 - 2008 ...

Foi em 2002 que chegaram as primeiras notícias “escandalosas” do processo Casa Pia. Envolvidos estão crianças, respeitáveis instituições, personalidades mediáticas e outras menos mediáticas. Uma teia que surge da penumbra e destaca um tema já estafado noutros países e tantas vezes deixado ao sabor do tempo e dos poderes, da erosão da memória e dos incontornáveis monstros burocráticos e judiciais.

À parte do natural amadurecimento das sociedades, de uma democracia e das suas inevitáveis contingências creio que o direito à indignação é saudável, muito concretamente quando se pensa na vida das crianças neste e noutros casos à mercê dos seus guardiães em quem não tem alternativa senão confiar e esperar!

Tema sem dúvida a necessitar de dissecação.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Credo in unum Deum

Credo

Creio em um só Deus,
Pai todo-poderoso,
Criador do céu e da terra
De todas as coisas visíveis e invisíveis.

Creio em um só Senhor, Jesus Cristo,
Filho Unigénito de Deus,
nascido do Pai antes de todos os séculos:
Deus de Deus, Luz da Luz,
Deus verdadeiro de Deus verdadeiro;
Gerado, não criado, consubstancial ao Pai.
Por Ele todas as coisas foram feitas.
E por nós, homens, e para nossa salvação
desceu dos céus

E encarnou pelo Espírito Santo,
no seio da Virgem Maria.
e Se fez homem.
Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos;
padeceu e foi sepultado.
Ressuscitou ao terceiro dia,
conforme as Escrituras;
e subiu aos céus,
onde está sentado à direita do Pai.
De novo há-de vir em sua glória,
para julgar os vivos e os mortos;
e o seu reino não terá fim.

Creio no Espírito Santo.
Senhor que dá a vida,
e procede do Pai e do Filho;
e com o Pai e o Filho
é adorado e glorificado:
Ele que falou pelos Profetas.

Creio na Igreja una, santa,
católica e apostólica.
Professo um só baptismo
Para remissão dos pecados.
E espero a ressurreição dos mortos,
e vida do mundo que há-de vir. Amen.


A Última Ceia e a cultura do semi-deus

As culturas que produzem muitos elementos que gostam de "brincar aos deuses" são aquelas cuja liderança é do tipo representado simbolicamente no quadro de Leonardo da Vinci, “A última ceia”. Nele todos olham ou falam sobre o líder. Todos esperam e exigem tudo do líder.

Infelizmente este valores produzem seguidismo e infantilização. Algo tremendamente desajustado para as necessidades das sociedades actuais, imersas em ambientes complexos e dinâmicos.

Se fosse pintor desenhava uma última ceia em que todos olhavam para todos. Mas esse desenho tinha movimento, e os olhares direccionavam-se mais para uns do que para os outros. Porque se todos são importantes, há quem, para cada tarefa, em cada momento, consubstancie melhor as suas opiniões. Sugiro que o grande desafio do mundo contemporâneo é encontrar um equilíbrio entre a inclusão de todos nas estruturas de poder (a sua horizontalidade) com a manutenção, nessas estruturas, de uma escala de valor (a verticalidade).

PS. Não deixam de ser esteticamente fascinantes as diversas composições feitas e motivadas pela “A Última Ceia”.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

brincar aos deuses

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

(Ricardo Reis)

Um Homem





Morreu ontem o escritor António Alçada Baptista. Tinha 81 anos.

Um Homem do pensamento, que generosamente escreveu e nos deixa a sua obra.

Pensamento Nº1 - Ainda o semi-deus

Existe desenvolvida essa sensação de se ser semi-deus em muitos domínios da nossa sociedade. Esse é um dos maiores factores de individualização do trabalho. Mas Portugal já não é uma sociedade de monopólios, nem económicos, nem culturais. No Portugal contemporâneo convivem e competem duas realidades culturais cujos fundamentos são opostos. A mais estabelecida está representada na ideia de que os cargos fazem as pessoas, a sua opositora, mais jovem, defende precisamente o contrário. Talvez estejamos a cair no erro de substituir o semi-deus da institucionalidade pelo semi-deus do mérito.

Julgo contudo que o semi-deus mérito pode ser mais democrático, porque bem aproveitado pode coexistir em todas as dimensões de uma organização. O semi-deus institucionalidade desvaloriza a participação informal e a colaboração vinda da base, do "terreno". Acontece que estes são ambos aspectos de fronteira da organização, ambos zona de contacto e experiênciação. Portanto, são a fonte da aprendizagem. Valorizar estas dimensões e dar-lhes lugar na construção colectiva é um dos grandes desafios que temos pela frente. Não basta dar lugar à discussão, é fundamental dar-lhe diversidade. Assumir plena e efectivamente a nossa parcialidade e incompletude.

Os perigos do mérito são semelhantes aos perigos da institucionalidade: o primeiro também tende a excluir, de acordo com a baixa eficiência. Onde está o erro desse pressuposto? É que uma grande pressão sobre a eficácia é normalizadora, e a normalização é um estado que segue determinados pressupostos. Contextualizados. Assentes num conjunto limitado de valores e valorizações.

Sabe a biologia que as espécies mais resilientes são aquelas que tem mais variabilidade. Porque são essas que terão capacidade de se ajustar às novidades criadas pelo ambiente em mudança. Na sociedade actual a mudança é uma condição da própria motivação dos sistemas, o que significa que, mais do que nunca, a normalização reduz a capacidade de reajustamento e, consequentemente, de sobrevivência da organização colectiva. Logo, o mérito não pode ser avaliado unidimensionalmente. Nenhum método é suficientemente abrangente, nem suficientemente perene.

No mundo de hoje não chega pensar - porque se pode cair em caracterizações totalizantes, em endeusamentos - é preciso implementar. E para tal, é essencial também ouvir, tentar, corrigir, perguntar, explicar, em suma, sintonizar com o outro e com realidade.

Contudo não deixa de ser o pensamento que faz ir mais além... É o pensamento que cria mais realidade ou novas realidades.

Pensamento nº 1 a) - O semi-deus

Aqueles que se envolvem com as ideias, com os factos e com as pessoas sabem, só podem saber, quanto exigente é essa posição!

Olhar para o lado é geralmente pouco e replicar o modelo é insuficiente quando não mesmo insensato. Ignorar as realidades limítrofes é letal.

Des-envolver é um processo que excede a figura do semi-deus burocrático e administrativo a quem é atribuída a execução suposta de uma missão.

Ora partindo do princípio de que cada vez mais o esclarecimento tem vindo a ser um benefício de um número crescente de viventes, quer em número, quer em diversidade e complexidade, creio ser legítimo assumir que o exercício do pensamento seja também um acto progressivamente mais discutido.

Refiro-me em particular, às questões que habitam na causa comum, em que questões como a opinião, a escolha ou a ausência dela, a satisfação das necessidades e outros mecanismos equivalentes são aspectos mais tocados.

Contínua, como continuará sempre enquanto Nós continuarmos um percurso simultaneamente livre e estranho, à mercê da tentadora ideia de um mundo melhor.

Pensar é um acto selvagem porque desassossegado no seu cerne, Talvez porque dure tão pouco anos precise de se caracterizar numa expressão perturbadora que o torne evidente e o faça distinto do nada.

Afastar-mo-nos da barbárie através da rota da experiência humana a que temos oportunidade de ter acesso e fazer uso disso é no mínimo excitante e audacioso.

Milhares nas ruas, outros tantos em casa! Poucos a quem cabe a decisão, talvez umas dezenas? À parte confortos vitoriosos de qualquer um dos lados, são ideias que se discutem. A urgência é para continuadamente dar espaço para fomentar a critica e a discussão de soluções ou para silenciar incómodas dissonâncias?

Pressionar para cristalizar o momento numa fotografia que agrade!

As fotografias apagam-se, tal como nós próprios, mas a memórias das nossas ideias tal como a água não se detém, arduamente sulca e segue.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Pensamento Nº1

Tenho falado de educação. Deixo agora um pensamento sobre liderança que serve aos professores, serve quem gere as escolas e serve quem gere o sistema de ensino. Serve para toda a gente...

"Network leaders are lead learners not all-knowers"

Paul Skidmore (2004)

sábado, 6 de dezembro de 2008

Ainda a educação...

Discordo de todos aqueles que consideram que o ensino português é um caso de insucesso. Compreendo essas afirmações nas bases em que são feitas, isto é, quando se comparam os resultados dos estudantes portugueses com os resultados dos estudantes dos melhores sistemas de educação doutros países. No entanto, discordo porque não considero que esse tenha sido o objectivo para o qual ele foi concebido desde 1974.

O objectivo político que tem vindo a orientar a expansão do sistema de ensino é comum à política aplicada em outros sectores: promover a sua democratização. Portugal esteve focado em generalizar o acesso à segurança social, ao ensino, à saúde, à habitação, tal como noutros domínios. A exigência sobre a qualidade dos serviços é uma sensibilidade recente, tem vindo a crescer lentamente no seio da população portuguesa. Mas apenas porque se atingiu um certo limiar de acesso generalizado da população a estes bens sociais.

Essa mudança paradigmática trouxe consigo um novo olhar, uma outra exigência, e uma vontade de comparar Portugal às boas práticas internacionais. Acontece que nesta fase de transição gerou-se um equívoco: avalia-se um sistema, que se desenvolveu com um objectivo específico, em função da uma nova disposição com objectivos diferentes. Resultado: do ponto de vista da democratização o esforço está a dar resultados positivos, do ponto de vista da comparação com as boas práticas há muita coisa para fazer.

De facto o sistema de ensino tem sido um domínio social fundamental para estabilizar e implementar a democracia portuguesa e para nela se desenvolver uma cultura de exigência. O sistema de ensino foi um dos principais veículos de amplificação da cultura democrática. Isso vê-se pela mobilidade social vertical conseguida no nosso país nos últimos trinta anos, resultado de uma democratização da formação escolar de base. Essa mobilidade trouxe diversidade às estruturas de poder. Essa variabilidade "abriu" o país, tanto aos problemas internos como à sua comparação com o exterior. É essa abertura que nos estimula a valorizar todo o novo material de comparação, e, consequentemente, nos aconselha a ser mais exigentes.

Estamos agora a redefinir os objectivos para o sistema de ensino, uma vez que - quando analisados os desafios que temos pela frente - o seu estado actual não é suficiente. Temos de o fazer. Mas não podemos pensar que as políticas se fazem de acordo com os nossos desejos e idealizações. A política faz-se sobre a história, com condicionantes e forças, derrubando hábitos é certo, ultrapassando as resistências. Mas não é feita sobre o vácuo, a implementação das ideias exige sensibilidade política e participação social.

É errado afirmar, sem ouvir a história, que o sistema de ensino português é mau. Foi o possível em função das nossas condicionantes sociais e políticas. Eu prefiro passar por esta crise actual em oposição a outra via de desenvolvimento, que poderia ter sido a escolhida, e que me obrigaria a concluir agora que o nosso sistema de ensino é restritivo e factor de exclusão.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

desejo?...

Falei de emergência, falaste de descoberta. Falamos do futuro. Desejamos...

Deixo em seguida um exemplo de quem desejou e conseguiu.

Inutilia Truncat

Sinto-me autenticamente o Neil Armstrong ou o E. Aldrin, a pisar com entusiasmo este lugar de desafio. Recordo-me que os citados astronautas a bordo da Apolo tocaram o solo lunar mais precisamente no Sea of Tranquility, sortudos!

Impossibilitado de ir à lua pela minha própria fobia de ultrapassar limites fora do planeta, nada melhor que irromper pelo espaço virtual e qual cibernauta entregar-me a voos improváveis para além das margens da tranquilidade.

Ele há rasantes, tangentes e outros golpes acrobáticos na trajectória surpreendente de cada universo. Tentativas frustres de compreender de dividir, isolar, reter, fixar o mundo por momentos.

E que nos fica dessa experiência? Uma linha ténue e crente do seu alcance que prevalece à memória e se distingue do acessório – Inutilia Truncat – cortemos para criar!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Fica um poema de um pedagogo - António Gedeão

HOMEM

Inútil definir este animal aflito.
Nem palavras,
nem cinzéis,
nem acordes,
nem pincéis
são gargantas deste grito.
Universo em expansão.
Pincelada de zarcão
desde o mais infinito a menos infinito.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Contra a visão egocêntrica da liberdade

Hoje houve greve dos professores.

Em boa medida estou de acordo com algumas das objecções colocadas por eles relativamente aos mecanismos de avaliação adoptados por este ministério. Também compreendo bem a sua frustração sempre que são colocados como os principais responsáveis pela "falta de educação" da população portuguesa. Não concordo com essa visão. Mais: discordo em absoluto com esse tipo de discurso que procura isolar um grupo profissional para o tornar mais permeável às reformas.

Também sou um profundo defensor do direito à greve, portanto, independentemente das motivações pelas quais são convocadas, normalmente sou muito cerimonioso em fazer críticas às classes profissionais que adoptam essa forma de luta. Em conclusão: alegra-me ver uma classe tão unida a defender os seus direitos, mesmo quando os considero parcialmente desadequados, como é o caso.

O que me fez escrever este texto foi o que ouvi, hoje, quando fui ao café e me envolvi numa conversa sobre a greve. Estava lá um professor a quem pedi informações sobre a percentagem de adesão e ele respondeu-me que andara pelos 90%. Foram os seus comentários posteriores que me deixaram perplexo, este professor fez críticas ao carácter dos 10 por cento de professores que não aderiram à greve. Este era o género de críticas que já tinha ouvido acerca dos professores que concordam genericamente com as políticas deste governo.

Não é o facto de se criticar estes professores publicamente que me incomoda, é o facto dessas criticas se dirigirem ao seu carácter. É verdade que isso é a democracia. Acontece que é uma demonstração de falta de espírito democrático. Retirar a legitimidade social dos opositores é democraticamente errado, seja quando é feito pelos poderes políticos ou por colegas. Esse é um instrumento comum em ditadura, o que torna estranho que num dia em que se "usa" uma das grandes conquistas da liberdade se oiçam afirmações tão pouco merecedoras dessa mesma liberdade.

Se este ambiente se generalizou entre professores, não fazer greve é por si só um acto de liberdade. A ser verdade sou profundamente defensor daqueles professores que não aderiram a esta greve.

Eu acredito na liberdade efectiva e esse bem colectivo só existe quando é assumido por cada cidadão individual, quando cada um assume que a diferença não é uma falha de carácter, nem de moral, nem de ética, de valores, de consciência, de responsabilidade, etc.

A liberdade é para todos, não se serve à medida de cada um.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

1+1=3

Este título sugere a lógica que pretendo seguir neste blog: por princípio admitir que o mais absurdo pode ser o mais conveniente. Há qualquer coisa no «estranho» que simultaneamente me assusta e fascina.

Fique contudo esclarecido que não é a novidade que me atrai, é sobretudo aquela coisa que já existe mas que ainda não tem forma - não está inteligível. É disso que falarei neste lugar.

A minha vontade é dar relevo, procurar o sentido de certas coisas e dar-lhes valor. Portanto, a unidade a mais nesta equação pretende ser o símbolo desse movimento emergente, quando o ilógico se torna lógico, o anormal em normalidade. Mas, quando chegado esse momento corto - com a alta precisão de um bisturi - toda essa nova massa acabada de nascer e desligo-me dela.

Aqui se dará lugar às deformações do quotidiano. É o meu lugar.

É o teu lugar?...