Por aqui na nossa terra é muito comum ouvir críticas à inexistência de espírito de colaboração. Dizemos nós de nós mesmos que somos incapazes de trabalhar em equipa.
Digo eu que essa intolerância é por si só um bom indicador, pois representa uma revalorização do acto de colaborar. Estas reacções são uma demonstração de que existem forças internas que permitem estabelecer limites e apontar novas trajectórias. Estamos a aprender.
Mas também é verdade que este sentimento gera enormes frustrações. A consciencialização dos próprios erros e insuficiências é a fase mais crítica de qualquer processo de mudança. Porque gera perguntas mas não dá respostas; porque gera vontade que não é acompanhada de capacidade efectiva; porque se apresenta como óbvia ao indivíduo, mas nada diz sobre a forma de intervir no colectivo. E, de repente, o tempo urge. E a urgência aumenta a intolerância. E a intolerância crónica gera isolamento. E o isolamento cria um maior desfasamento entre o indivíduo e a sua realização. E assim se desenvolve um padrão comportamental negativo.
Mas estamos aqui e somos o que somos. A recriminação pode servir de bolsa de ar, por um breve período, e a confirmação das nossas altas espectativas de que o desenrolar dos acontecimentos será negativo pode até dar uma sensação de satisfação. A confirmação é uma forma de recompensa intelectual que tende a reforçar as nossas ideias, e, portanto, tende a fechar o nosso mundo num mundo de hábitos e de pensamentos recorrentes. São esse hábitos que estão a ser postos em causa.
Alguns estudos indicam que as exigências relativas à colaboração estão a aumentar: são cada vez mais complexas porque exigem mais colaboradores, maior diversidade de competências e personalidades, maior capacidade de afirmação de cada um, maior capacidade de ajustamento de todos e que todos os membros se mantenham actualizados. Ora, se a realização dos desejos individuais depende da capacidade de realização do colectivo, esta tendência sugere que a dificuldade para implementar colaborações é cada vez maior. A valorização da colaboração é um primeira etapa para responder a essa nossa insuficiência de concretização. Falta agora aprender a colaborar. Não basta o desejo. Não basta a exigência. Não basta a intenção. No que toca à colaboração nós estamos a dar de novo os primeiros passos.
Ao vivermos numa forma de vida profundamente desajustada às necessidade de um mundo complexo criámos esse conflito entre o desejo individual e a capacidade efectiva de concretização da sociedade no seu todo. Esse desajustamento é assinalado quotidianamente pelo alta intensidade das respostas emocionais. Nós estamos dentro dum padrão de hábitos que é conservado pela intensificação das respostas emocionais. E assim não somos capazes de reverter essa insatisfação em trabalho qualificante e em tempo útil. Ou assim parece para alguns.
Sabe-se hoje que bastam pequenas mudanças nos hábitos mentais e comportamentais para que subitamente se crie um movimento cognitivo e social tão alargado e profundo que permite alterar toda a perspectiva que cada um faz da sua envolvente. Do que vejo estamos a entrar num limiar desse tipo. Cá estarei para me regozijar por viver num período tão fértil e entusiasmante.
Finalmente é Sexta-feira
Há 12 anos