Lançou-se neste blog um repto: dizemos que é um imperativo assumir a necessidade de mudança. Ainda não sabemos para estabelecer o quê nem como.
Quanto a mim uma questão que deve ser debatida é o conceito de solidariedade. Por um lado, discutir que tipo de solidariedade queremos promover e, por outro, como conseguir fazer com que haja mais pessoas a intervir em prol dos outros.
A verdade é que eu não acredito na existência de uma solidariedade motivada por razões puramente altruistas. E considero que o discurso "por razões morais" já não penetra na nossa sociedade. No entanto, acho necessário aumentar os níveis de solidariedade. Defendo, em oposição à ideia estabelecida, que a solidariedade mais adequada aos nosso tempos é a solidariedade dos interesses.
Vivemos numa sociedade movida pelos interesses. Sempre foi, mas agora é assumida. Contudo esse pequeno facto altera muita coisa. Porquê? Porque cada vez é mais difícil convencer alguém com um discurso centrado na empatia piedosa. A sociedade das liberdades individuais também é a sociedade dos interesses individuais. Uma vem com a outra. Como o contrário também é verdade, quanto a mim a solução para o problema que aqui trago à discussão não passa por aderir a visões que restrijam a liberdade individual (nem marxismos, nem neo-liberalismos, nem religiões, nem ateísmos militantes)
Eu sigo por outra via. Ou melhor, eu tento seguir por outra via. Na medida em que vivo num contexto híbrido, diverso, que sobre os mesmos assuntos tem gente mais conservadora e outros com uma visão mais progressistas. Nasci aqui. Vivo aqui. Por tanto, eu próprio tenho de lidar, internamente, com as minhas incongruências. Que para já se apresentam irreconciliáveis.
Mas proponho que na visão que estamos a construir sobre o nosso modo de vida se assuma plenamente a ideia de que estamos numa sociedade movida pelos interesses individuais. E que, em seguida, retiremos consequências dessa imagem. Primeiro, deixar de julgar toda a gente, permanente e violentamente por defender os seus próprios interesses. Porque nós também fazemos isso. Segundo, que se viva a partir de um discurso (porque de facto nós somos o nosso discurso) mais adequado à situação deste mundo, mais assente nas noções de ganho e perda.
Não estou a defender a absolutização dessa visão, mas defendo um ganho de ênfase no total da nossa ecologia comunicacional.
Por exemplo, o MAS é uma entidade que pretende reunir todos os actores sociais, e é por isso uma entidade política. Tem de ter um discurso. Pode ser mais ou menos moralista. Se for moralista, terá uma política de comunicação baseada nos números, com uma interpretação zangada pelo facto de ainda termos números tão elevados de pobreza, exclusão, etc. Considerando que os números e o ralhete têm um impacto positivo sobre a alteração dos comportamentos das pessoas, nomeadamente aquelas que têm maior capacidade para mudar a situação (dinheiro, tempo, poder, trabalho). Mas numa sociedade dos interesses as reacções empáticas estão circunscritas à família e/ou amigos. Logo, esse discurso não "entra" nesses meios sociais.
Não resulta. Podemos viver em negação da realidade e viver zangados. Podemos viver numa luta quixotiana. Podemos tudo. Vivemos numa sociedade livre e ainda bem. Mas não é isso que eu quero para mim e falo para aqueles que não querem isso para si.
Se o MAS adequar o seu discurso à sociedade dos interesses, a sua política de comunicação incidirá nos ganhos que cada indivíduo da sociedade pode ter a partir dos seus gestos de solidariedade. Não conheço estudos para sustentar um discurso concreto, mas poderá incidir nas questões da redução da insegurança, na construção de uma economia mais forte, na possibilidade de ver o contexto social elogiar o seu gesto, questão que mexe com os egos, etc.
Temos de decidir o que queremos: uma sociedade mais solidária ou mais "bem intencionada". Quanto a isso sou cínico: repito, não acredito na bondade pura e importa mais que alguém tenha comida em casa ou receba educação, mesmo que o dinheiro tenha sido dado porque alguém quis receber "festas" no seu ego.